terça-feira

A Importância de Cascais na Idade Média




Por João Aníbal Henriques

Situada estrategicamente a poucos quilómetros de Lisboa e controlando a entrada da sua barra, a Vila de Cascais assumiu sempre um papel preponderante na defesa da capital. Durante a Idade Média, sobretudo como consequência das constantes e imprevisíveis contendas que desde cedo opuseram Castelhanos e Portugueses, tornou-se com o seu castelo na verdadeira guarda avançada de Lisboa.

A construção das muralhas do Castelo de Cascais, com uma origem que se perde nas brumas do tempo, deveram-se certamente a necessidades concretas de defesa. Quer tenham a sua origem durante o período Árabe, como alguns defendem, ou já em plena Nacionalidade, como querem outros, o certo é que o investimento associado à sua construção ficou certamente ligado aos muitos episódios de ataques cerrados que o povoado sofreu no dealbar da sua História.

Ponto assente, no entanto, é o de que as principais alterações por ela sofridas, e que lhe conferiram os limites físicos que hoje conhecemos razoavelmente, se deram algures entre o reinado de Dom Pedro I, que elevou Cascais a Vila, e o reinado de Dom Fernando, traduzindo e comprovando a importância que teriam no contexto da político externa Portuguesa de então.

A importância do Castelo Medieval de Cascais, de acordo com a documentação existente, centrar-se-á basicamente neste período, tendo em conta não só o volume das obras que conheceu, como também os muitos episódios relatados nas crónicas que nos transmitem o que foram as comummente designadas “Guerras com Castela”. Estas guerras, como nos refere o Professor Joaquim Veríssimo Serrão no primeiro volume da sua “História de Portugal”, fruto da vontade de Dom Fernando, tiveram por seu turno uma importância extraordinária na definição da História de Portugal.

Testemunho fundamental para a realização deste empreendimento é sem dúvida o de Fernão Lopes, que na sua “Crónica de Dom Fernando” nos refere o esforço deste rei para alcançar as tão apetecidas vitórias militares sobre o País vizinho. Para além de Fernão Lopes, há ainda a salientar o volume publicado pelo Instituto Nacional de Investigação Científica (I.N.I.C.) acerca das “Cortes Portuguesas no Reinado de Dom Fernando”, transcrevendo as actas das cortes ocorridas entre 1367 e 1383, que nos tornam possível obter um vislumbre bastante interessante sobre a realidade temporal de então.




Utilizaremos ainda, para definir a unidade cronológica que se associa à análise da importância de Cascais nesta época, a versão original das cartas de doação da Vila de Cascais, primeiro a Gomes Lourenço de Avelar, e mais tarde a Henrique Manuel de Vilhena, transcritas no primeiro volume da “Chancelaria de Dom Fernando”, e que nos mostram quão importante podem ser para a realidade do reino, as movimentações políticas dos senhores que detinham o poder numa singela e supostamente insignificante vilória da costa marítima.

Assim, na Carta de Doação do Senhorio de Cascais a Gomes Lourenço de Aveçar, datada de dia 8 de Abril de 1370, El-Rei Dom Fernando, nesta altura residindo em Santarém, estabelece o Concelho de Cascais, demarcando-lhe os seus limites e dando-lhe jurisdição própria “Per ssy alta e baixa”. Nesta carta, a primeira que nos menciona a existência de um castelo, o monarca confia-o a Gomes Lourenço de Avelar, “seu leal vassallo”, que passa a ter os poderes de governador da praça e de autoridade suprema do novel concelho, assistido pelos juízes e vereadores.

Segundo Ferreira de Andrade, após todos os problemas que acompanharam a subida de Cascais à condição de Vila, esta carta representa já a doação de uma povoação com um grau de importância bastante grande: “Cascais alcançou a sua autonomia devido certamente à importância e à propriedade que já desfrutava nesta altura, importância que em parte lhe advinha do seu porto e do tráfego comercial que se operava através dele com o País e com o estrangeiro”.

A importância militar de Cascais aparece-nos também bastante referenciada em todos os restantes autores que estudaram este problema. Segundo Branca de Gontha Colaço e Maria Archer, autoras da mítica obra “Memórias da Linha de Cascaes”, a entrega do Castelo de Cascais a Gomes Lourenço de Avelar foi consequência directa de uma necessidade muito específica: “No reinado de Dom Fernando foi o Castelo de Cascais entregue ao “fronteiro” Gomes Lourenço de Avelar, decerto em missão de o defender contra os piratas e de proteger a Cidade de Lisboa”.

De facto, para todos aqueles que se debruçaram com mais cuidado sobre a posição geográfica da Vila de Cascais, torna-se fácil compreender quão importante para o reino seria esta povoação. Como José d’Encarnação nos referiu em 1989, Cascais era a guarda avançada de Lisboa, e como tal merecia, de facto, uma protecção que lhe permitisse sobreviver e controlar eventuais investidas que fossem levadas a cabo contra a capital. É nesta data que Cascais passa a ser considerada a “Sentinela de Lisboa”.

Assim, podemos considerar como principal ponto da importância de Cascais a sua posição estratégico-militar, que serviu de motor à sua autonomia, e na qual o papel do seu castelo, que nessa altura já marcava de forma perene a sua paisagem, foi decerto bastante importante.

Por outro lado, não é de menosprezar o facto de Cascais ter sido confiada a Gomes Lourenço de Avelar. Este homem, que a História nos lega com os epítetos de “O Formoso”, “O Fiel”, “O Defensor” e “O Corajoso”, é apesar de tudo mal conhecido em termos historiográficos, existindo poucos dados concretos sobre a sua vida e obra. Sabe-se, no entanto, que praticou actos de coragem em Ciudade Rodrigo, ao serviço de El-Rei de Portugal Dom Fernando. Segundo Isabel Nery, João Aníbal Henriques e Ricardo Pimentel, no seu trabalho “Cascais Evoluções Históricas”, de 1989, a posição que Cascais conquista em 1870 deve-a sobretudo ao seu primeiro Senhor: “Importante para a nossa vila foi a doação (do castelo e lugar de Cascais) a 8 de Abril de 1870, ao fidalgo Gomes Lourenço de Avelar, pelos seus altos feitos na Cidade Rodrigo. É isto que trás a Cascais jurisdição própria e a confirmação dos seus limites”.

Por tudo isto, tendo o primeiro Senhor de Cascais recebido esta honraria como consequência dos altos feitos militares e da fama que granjeou ao serviço do Rei e da Pátria, dificilmente poderíamos admitir que Dom Fernando lhe entregasse um castelo e uma povoação de reduzida importância. Por consequência, e tendo em atenção as constantes lutas que ocorreram durante este mandato, não é difícil de antever que o Rei tivesse escolhido para zelar por este ponto estratégico da defesa de Lisboa, alguém comprovadamente qualificado para essa função.

Em favor da lealdade que unia Gomes Lourenço de Avelar ao monarca Dom Fernando, vem o episídio que nos narra Ferreira de Andrade na sua obra “Cascais Vila da Corte”: “Em 1372, Henrique de Castela caminha sobre Lisboa e Gomes Lourenço de Avelar acorre à cidade para socorrer o Rei, que logo lhe ordena «tornar para onde estava e se fizesse bem prestes com as gentes que tinha e podesse ter (…)».

Logo de seguida, em 1373, segundo o cronista Fernão Lopes, no capítulo LXXVII da sua “Crónica de Dom Fernando”, cascais é atacada por Dom Afonso, Conde de Grigon e filho bastardo de D. Henrique de Castela, com quatrocentas lanças, facto que devastou quase completamente a pequena vilória: “Em esto foi o conde Dom Affonso, filho delRei Dom Henrrique, com quatro çentas lanças sobren huum logar cercado, que chamom Cascaaes, que he mujto jumto com o mar, çinquo legoas da cidade; e as poucas gentes delle, que o deffemder nom podiam, deromlho logo sem outra pelleia que hi ouvesse, e elles prenderom os que quiserom, e roubarom o logar de muj gramde roubo, e tornaromse com elle para a cidade (…)”.

No entanto, não é Cascais a única povoação visada pelos ataques Castelhanos. Muitas outras sofreram os horrores da invasão, que foi deveras humilhante, segundo o grande cronista. A salientar, o facto de entre todas as povoações devastadas ter sido Cascais a única cujo acontecimento é expressa e minuciosamente relatado na crónica. Segundo Fernando Castello-Branco, este relato deve-se a uma circunstância fundamental: “… entre todos estes ataques, apenas de um Fernão Lopes dá certos pormenores e indica o nome do lugar. Esta relevância não se pode explicar pela maior repercussão da investida, pois teve o mesmo aspecto e finalidade do que as outras que foram feitas a povoados cujos nomes ignoramos. Por isso supomos que esta referência especial se deve ao facto de ter sido Cascais o mais importante dos povoados vítimas dos latrocínios dos castelhanos, hipótese que o montante da força utilizada na invasão – 400 lanças – e o facto de ser dirigida pelo próprio filho do Rei de Castela, vêm corroborar”.

Logo após esta invasão, cascais vai ver-se pela primeira a braços com um problema sucessório. Gomes Lourenço de Avelar, no próprio ano de 1873, após ter-se recusado a dar um filho como refém nas pazes entre Dom Fernando e Henrique II de Castela, teve os seus bens confiscados e doados ao segundo senhor, Henrique Manuel de Vilhena, futuro Conde de Seia e outro dos validos do Rei Português.

Muito embora as opiniões sejam contraditórias, sobretudo no que concerne à capacidade deste novo Senhor de Cascais, o certo é que ele era, de facto, tido em grande conta por El-Rei Dom Fernando. Por um lado podemos comprová-lo através dos títulos que ele recebe do monarca. Por outro, temos a comprová-lo a sua presença em grande parte das reuniões de Corte desse reinado, e também no seu papel activo ao lado do Rei nas negociações que, umas após outras, se fizeram acerca do casamento da Infanta Dona Beatriz, herdeira legítima do trono Português.

Aparece-nos assim, relatado na mesma crónica de Fernão Lopes, desta vez no Capítulo XCVI, o casamento da Infante Dona Beatriz de Portugal com Dom Fradarique, filho do Rei de Castela, primeiro consórcio a que assiste Henrique Manuel de Vilhena. Aqui, após a descrição das condições em que o casamento acontece, diz-nos Fernão Lopes o seguinte: “Em outro dia todollos senhores, e gentes que hi eram, a que esto compria de fazer fazerom preitto e memagem nas maãos de Dom Frei Alvoro Gonçallvez, prior do espital, Damrrique Manuel de Vilhena, senhor de Cascaaes, curadores da discta iffamte, e em maãos do dicto Fernan Perez, que morremdo do dito Rdei, e por Rei o dito seu marido, avendo com ella comprido aquel honesto jumtamento que se faz entre os casados”.

Também nas Cortes de Leiria de 1376, se menciona o dito Senhor de Cascais, Dom Henrique Manuel de Vilhena, como um dos que, em conjunto com Frei Álvaro Gonçalves, Prior do Hospital, serve de curador dado à dita Infanta por Dom Fernando. De salientar ainda a autoridade que possuía para juramentar o consórcio e testemunhar a união: “Primeiramente o Ifante dom Joham e o Arcebispo e bispos e condes e meestres Ricos homens e caualeiros fidalgos e Alcaydes dos castellos e fortalezas. e. procuradores dos Concelhos das Cidades e villas e logares do dicto Reyno de Portugall. e do Algarue, e os conçellos per ssy e por aquelles que depôs elles veerem Jurarom e fezerom prometymento e managem. A nosa. Senhora A Jfante dona Beatriz filha primeyra e herdeira de nosso. Senhor El Rey dom Fernando e da Raynha dona Leonor sua molher em pessoa e em maãos de dom frei aluaro gonçaluez priol do hospital e d anrrique Manuel de. Vilhena ssenhor de Cascaaes Curadores dados aa discta Jfante poor o dicto Senhor Rey Aos quaes deu. Poder. A Autoridade pea Receber. A dicta jura e preyto e managem que depois dos dias da vida do dicto senhor Rey nom leixando filho. Barom lydemhoque a ajam por sa Senhora naturall e por Raynha e por herdeyra dos dictos Reynos de Portugall. e do Algarue a dicta Jfante dona Beatriz”.

Posteriormente, é também Fernão Lopes que nos vai relatar o novo enlace matrimonial entre a Infanta Dona Beatriz e outro dos filhos de Dom Henrique II de Castela, o Infante Dom Henrique. Também neste episódio, que nos aparece com o número CXVV, podemos assistir à actuação de Henrique Manuel de Vilhena, que continua a ser um dos mais importantes servidores de Dom Fernando: “ Despois dest no mês seguimte degosto, chegarom aa cidade de Soria Dom Affonso, bispo da Guarda, e Hemrrique Manuel de Vilhena, senhor de Cascaaes, e o doutor Gil Dossem, e Rui Louremço a elRei de Castela, que segundo os trautos que amtrelle e el-Rei Dom Fernando seu senhor avia, que el devia de fazer cortes ataa primeiro dia de Setembro, nas quaaes todollos senhores, e fidallgos, e cidades, villas de seu reino aviam de fazer managem, para guardarem aquelles trautos na maneira que forom devisados, e que prouguesse aa sua real alteza de o mandar assim fazer”.

Henrique Manuel de Vilhena aparece-nos assim como uma das pessoas mais importantes do Reino durante o reinado de Dom Fernando, sendo mesmo, juntamente com o Prior do Hospital da primeira vez, e com o Bispo da Guarda da segunda, nomeado curados da Infanta Dona Beatriz, que como Dom Fernando tinha consciência, era a herdeira do trono Português.

Todos estes factos vêm ao encontro da teoria segundo a qual este segundo Senhor de Cascais seria, de facto, um dos homens de confiança do monarca, a quem dificilmente seria concedido o senhoria de uma povoação e de um castelo de menor importância.

Neste sentido vem ainda o desenrolar da História depois da morte de Dom Fernando. Assim, segundo A.H. de Oliveira Marques, Henrique Manuel de Vilhena acabou por perder o senhorio de Cascais a favor do filho de Gomes Lourenço de Avellar: “O Conde de Seia, porém, tergiversou nos acontecimento de 1383-1385, apoiando primeiro Dona Beatriz e o Rei de Castela, depois Dom João I de Portugal e depois, novamente, o Rei de Castela. Perdeu, por isso também ele, o senhorio de Cascais, doado ao filho do primeiro senhor, de nome Sancho Gomes de Avelar (…)”.

A ligação que Henrique Manuel de Vilhena possuía aos juramentos que tinha feito durante o reinado de Dom Fernando, demonstram bem quão fortes seriam as suas ligações ao poder Régio, e consequentemente a importância que teria o seu senhorio para o desenvolvimento da História de Portugal.

O Castelo Medieval de Cascais pode assim ser considerado como um dos pontos, senão vitais, pelo menos muito importantes para defensão do reino, servindo, como já antes havíamos referido, de “Sentinela Avançada de Lisboa” e importante porto comercial durante toda a Idade Média.



domingo

A Geografia Medieval de Cascais




Por João Aníbal Henriques

A geografia medieval de Cascais, associada à implantação do antigo castelo e, mais tarde, à readaptação do espaço às circunstâncias que derivam dos vários episódios rocambolescos pelos quais passou a Vila, é hoje bastante fácil de decifrar. Descobertas modernas, efectuados um pouco por todos os arquivos históricos em Portugal e Espanha, permitem definir com alguma clareza a forma como se organizou o espaço e a vivência das suas gentes.

Se, por um lado, a monumentalidade da concepção arquitectónica do seu castelo não deixa indiferente aquele que o visita, por outro, e no que ao Castelo Medieval de Cascais diz respeito, foram muitos aqueles que se sentiram de tal forma marcados pela visão de tão vetusto monumento que optaram como eternizá-la em mapas, figuras e gravuras que se estendem ao longo dos tempos e das épocas históricas. Estas, que vão desde o esboço a carvão de um mero retrato até ao complexo mundo da cartografia, conseguem trazer até nós um pouco daquilo que foi este recinto amuralhado, quase desde a época áurea da nossa Nação até aos inícios do Século XX.



Para este conhecimento contribuiu o esforço de uma série de pessoas que, estudando com empenho os arquivos Nacionais e estrangeiros, conseguiram trazer para a actualidade toda a documentação que tornou possível este trabalho. De entre elas, salientamos a da Drª. Margarida Magalhães Ramalho, que procurando no Arquivo de Simancas, em Espanha, fontes para complementar as escavações arqueológicas que dirigiu na antiga Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, na Cidadela de Cascais, conseguiu trazer à luz do dia e ao público em geral, duas imagens inéditas deste castelo, que aliadas àquelas que nos mostram Ferreira de Andrade, Carlos Ribeiro e Guilherme Cardoso, permitiram a reconstituição quase completa da forma do mesmo.

Assim, na mais antiga descrição que se conhece da Vila, a figura datada de 1572 da autoria de George Braunius, impressa na sua obra “Civitias Orbius Terrarum”, pode ver-se a vila envolvida pelas muralhas, que possuíam sete torres, sendo as do lado Nascente de forma circular. Junto à praia, uma barbacã defendia o areal dos desembarques do inimigo e é a única porta que vislumbramos aberta na muralha. A torre Sul do castelo é a única que possui telhado e tem geminadas duas construções que seriam, provavelmente, as casas do Conde de Cascais.

O Professor A.H. de Oliveira Marques diz-nos, acerca da topografia da Vila Medieval de Cascais, que muito pouco se pode saber. No entanto, e também em comparação com a já referida Gravura de Braunius, ele sublinha o seguinte: “O confronto com planta actual e com as mais antigas plantas de Cascais, que datam do Século XVII, permite aventar uns 0,6 Há para a área compreendida dentro da cinta amuralhada”. Este autor aponta-nos ainda o facto de originariamente este castelo se situar no ângulo Sueste do perímetro amuralhado.

Segundo Manuel Acácio Pereira Lourenço, as muralhas deviam ocupar uma pequena área, e teriam sofrido uma série de transformações e melhoramentos, que nas suas estruturas externas, que nas suas dependências senhoriais, pelos vários senhores que decerto aí residiram: “Desde os meados do Século XIV que há notícias de que parte da Vila já era cerca de muralhas que deviam ocupar uma pequena área, a qual se pode circunscrever hoje ao espaço existente entre a Estrada Marginal, a Sul, a Rua Marques Leal Pancada, a Norte, a Rua Luís Xavier Palmeirim, a Oeste, e a escarpa sobre a Baía, a Leste. Dentro destas muralhas, e na sua face Norte existia o castelete, que era, presumivelmente, o palácio dos donatários. É possível que o primeiro donatário, Gomes Lourenço de Avelar, já ali possuísse a sua habitação, como é certo que o arrogante Henrique Manuel de Vilhena ali residiu. Porém, se qualquer destes dois donatários ali fez obras importantes, é mais provável que João das Regras, pela alta importância da sua personalidade, longa vida e frequente permanência em Cascais, tivesse feito maiores instalações, depois melhoradas e ampliadas pelo genro”. E é ainda este autor que nos propõe uma lista de moradores que em épocas que se seguiram, devido à perda de importância do castelo, ali passaram a residir permanentemente.

Carlos Ribeiro, numa das publicações dos Serviços Geológicos Portugueses, dá-nos uma panorâmica da Costa de Cascais, onde se podem ver o castelo, o Convento de Nossa Senhora da Piedade, o porto do Marégrafo e ainda a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz. Esta panorâmica, datada na publicação do Século XIX, não poderá, no entanto, ser considerada válida como elemento descritivo da Costa de Cascais, uma vez que apresenta graves faltas no que concerne ao posicionamento de certos componentes no desenho.

Assim, aponta-nos uma ligação entre o antigo Castelo Medieval de Cascais e a actual Cidadela. Por outro lado, o Convento de Nossa Senhora da Piedade que, como hoje se sabe, ficou muito danificado como consequência do grande terramoto de 1755, aparece-nos aqui completamente erguido de acordo com as descrições dos Frades Carmelitas que aí habitaram. Um varandim trabalhado e decorado que hoje se encontra na fachada Sul do edifício, e que o Visconde da Gandarinha aí mandou colocar após ter adquirido as ruínas do antigo edifício em meados do Século XIX, aparece-nos nesta gravura no seu local original de antes do terramoto, ou seja, na fachada Este. A descrição que aí se encontra do arco de entrada para o sítio do castelo, situando-se a cerca de sete centímetros, no desenho, a Sul do porto marégrafo, colocá-lo-ia no mesmo sítio onde no Século XIX se encontraria a Cidadela e a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz.

Tomando esta gravura como verdadeira, ela representaria uma realidade que se situaria cronologicamente entre os Séculos XVI e XVII, pois torna-se completamente obsoleta a representação da Cidadela, sem espaço de divisão até ao Castelo, e ainda para mais encontrando-se a Norte do Convento, que actualmente se sabe, e este facto pode ainda ser verificado ‘in locco’, situar-se exactamente e em perfil, no espaço que se situa entre as duas construções.

Para além da figura de Braunius, existem ainda algumas figuras mais recentes, mas que no entanto dão contributos bastante importantes para o conhecimento da localização do antigo Castelo Medieval de Cascais. A planta desenhada por Filipe Terzio, recolhida também pela Drª. Margarida Magalhães Ramalho no Arquivo de Simancas, apresenta a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, a Casa do Visconde Monsanto e a Vila Velha em perspectiva, seguida da seguinte legenda: “Plano de Cascaes en donde figuran en prespectiva las fortalezas nueva e vieja asi como las casas de Don António, señor de Cascaes. Lisboa 22 Jenero 1594”.

Nesta planta, a Vila Velha aparece-nos englobada dentro das antigas muralhas medievais do castelo, sendo composta de cerca de onze habitações e de umas cavalariças. O acesso a esta área era feito através de uma porta lateral que daria para a actual Rua Marques Leal Pancada. Junto a esta porta está desenhada em perspectiva uma das torres circulares do castelo, que possivelmente será aquela que ainda em finais da década de quarenta do Século passado, o Visconde Coruche terá fotografado. Segundo a opinião de Guilherme Cardoso e João Pedro Cabral, seria esta a Torre do Relógio: “A torre onde estava o relógio é a torre do lado Nascente da torre porta, conforme a Planta de Terccio e era de configuração circular (…)”.

Segundo a Drª. Margarida Magalhães Ramalho, e de acordo com o que se pode ver nesta figura, a torre possuiria três andares: “De três andares, com um pequeno “varandim” entre o segundo e o terceiro piso é encimada por uma pequena cúpula”.

Outra das plantas que nos pode esclarecer acerca de delimitação geográfica do Castelo de Cascais é da autoria de Leonardo Turriano, datada de 28 de Abril de 1597. Tem esta figura a seguinte legenda: “Plano de Cascaes que represente en la parte superior el monasterio de Santo António y en la parte inferior el fuerte, jardines y casa del conde de Monsanto junto a la muralla del castillo viejo com el diseño de una trinchera que ha de efectuarse para su defensa por Leonardo Turriano 28 de Abril de 1697”.



Neste desenho podemos reconhecer a forma como o Palácio dos Senhores de Cascais terá sido implantado sobre um dos pedaços de muralhas hoje desaparecidos, na fachada Nascente do mesmo castelo, destruindo, para a sua construção, algumas das torres que ladeavam as muralhas.

As restantes plantas da Vila de Cascais, todas elas da autoria de desenhadores Italianos ao serviço do Rei de Espanha, pouco ou nada adiantam à descrição do Castelo de Cascais, uma vez que são decalques umas das outras, efectuadas com o propósito de informar este Monarca do estado em que se encontravam as fortalezas Portuguesas, neste caso específico da de Nossa Senhora da Luz, pouco mais dizendo relativamente ao Castelo Medieval ou a outros aspecto do devir urbano da maravilhosa Vila de Cascais.

Somente a título de curiosidade, o autor de uma delas, o Italiano Frei Vicenzio Casale, faz a seguinte legenda da sua planta: "Hazer modello de Casquaiz ansi del castillo com de la villa metiendo dentro la Iglesia q se haze aora y la casa del señor e unos redutos q aj."

Segundo Guilherme Cardoso e João Pedro Cabral, nos seus "Apontamentos Sobre os Vestígios do Antigo Castelo de Cascais", existiam várias portas que davam acesso ao Castelo de Cascais: "Eram duas as portas do castelo, se bem que anteriormente tenha existido uma outra na barbacã, sensivelmente onde hoje são as escadas ao fim da Rua Manuel de Araújo Viana. O "títolo 140º, lixo na porta pequena do livro de posturas da câmara - 1587-1837" refere-nos a existência de uma porta pequena no lado do mar. O "títolo 63º" do mesmo livro sobre o "lixo e a sugidade na villa", refere também a porta pequena que ficava abaixo do castelo redondo do senhor. A referência a uma porta pequena deixa implícita a existência de uma outra porta, que considerada em oposição, deveria ser maior. Essa porta pequena consta na Planta de Terccio e localizava-se senvolvelmente onde hoje são as escadas do arruamento que parte do Sítio do Castelo".

O facto é que ainda hoje, ao subirmos a íngreme ladeira que faz a Rua Marques Leal Pancada, podemos encontrar restos do antigo Castelo Medieval de Cascais. Aqui, nota-se uma grande porta há muito emparedada que, pelo facto de ter figurado o Escudo dos Castros, encimado pela Esfera Armilar, poderá ser considerada como a principal porta do castelo. Esta parte, apesar das modernas intervenções que sofreu, apresenta ainda as seteiras autênticas e o já mencionado escudo.

Ainda na mesma Rua Marques Leal Pancada existe uma outra porta em forma de arco. Segundo a maior parte das opiniões, essa porta, onde se pode ler uma breve alusão Às reuniões dos homens bons de Cascais que aí ocorreriam, teria sido aberta em época muito posterior, não fazendo parte da configuração original da fortificação.

Por tudo o que aqui foi apresentado, pode concluir-se que o Castelo de Cascais, embora de raízes perdidas na bruma dos tempos, conserva ainda hoje vários vestígios que nos permitem perceber que foi na Época Medieval que ocorreram as maiores e mais marcantes intervenções no casco urbano de Cascais.

Em termos grográficos, a área do antigo Castelo Medieval é delimitado na actualidade pela Avenida Dom Carlos I, pela Rua Luís Xavier Palmeirim e pela Rua Marques Leal Pancada. Lá dentro, o perímetro amuralhado compreenderia a actual Rua Major Augusto Escrivanis, a Rua Manuel de Araújo Viana, a Travessa Tenente Valadim e a Rua Tenente Valadim.

As suas muralhas, servindo altaneiramente a Causa Nacional, erguiam-se sobranceiras ao mar, e continham no seu interior, para além do Palácio dos Senhores de Cascais, um núcleo de casas de habitação que posteriormente serviram para albergar grande parte da população de Cascais.



segunda-feira

O Castelo Medieval de Cascais





por João Aníbal Henriques

O Castelo Medieval de Cascais, de que hoje já só restam algumas das inúmeras pedras que contribuíram para o seu esplendor, reveste-se, desde tempo imemoráveis, de uma cortina de fumo que, de uma maneira ou de outra, tem despertado a atenção de historiadores, poetas e artistas plásticos.

Como hoje conhecemos, através da recente descoberta nos arquivos de Simancas pela Drª. Margarida Ramalho, ilustre arqueóloga do nosso Concelho, o Castelo Medieval de Cascais é o resultado de um intrincado processo de melhoramentos e intervenções variadas que de maneira perene não nos permitem conhecer de fiel as suas origens.

As teses relativas a essa origem aparecem assim distribuídas num espectro cronológico que nos leva quase desde o período Calcolítico, onde como é do conhecimento geral apareceram os primeiros recintos fortificados, até ao período comummente designado como “Filipino”.

Segundo Manuel Acácio Pereira Lourenço, no seu livro “As Fortalezas da Costa Marítima de Cascais”, o Castelo de Cascais já existia quando E-Rei Dom Afonso Henriques fundou a nação: “Ao fundar-se a Nação, no território de Cascais a população era, predominantemente moura, e há notícia da existência na Vila de uma Torre dos mouros que ruiu com o terramoto de 1755”.

Da mesma opinião é Ferreira de Andrade, grande historiador Cascalense que, em meados do Século XX, publicou aquele que é um dos baluartes da História de Cascais. Assim, este recinto amuralhado, segundo as palavras do autor no seu livro “Cascais – Vila da Corte”, é-nos situado cronologicamente algures perto do período da Independência Nacional: “Já no capítulo I nos referimos à existência em Cascais, possivelmente dos primórdios da nacionalidade ou, mesmo, de época anterior, à conquista Cristã de uma fortaleza defensível do burgo. Castelo, no sentido lato de baluarte murado (…)”.

Fruto do terramoto de 1755, foram levados a cabo no Concelho de Cascais, uma série de inquéritos, com vista à determinação do estado em que ficou o município após aquele acontecimento catastrófico. Assim, segundo o então Reitor da Igreja Matriz de Cascais, Manuel Marçal da Silveira, no dia 6 de Abril de 1758: “Há castelo antiquíssimo que estava o signo do relógio da Camera, porem esta cahio por ocasião do terramoto do primeiro de Novembro do anno de mil settecentos e sincoente e sinco”. Deste mesmo interrogatório nos fala também Ferreira de Andrade, referindo-se a um monge do Convento de Nossa Senhora da Piedade (onde hoje se encontra o edifício do Centro Cultural de Cascais) que pouco após o terramoto de 1755 se terá referido à Torre moura da Vila. Não nos foi possível, no entanto, encontrar esse documento.

A existência de um castelo ou recinto amuralhado nesta Vila de Cascais encontra-se, no entanto, provada para períodos mais recentes, nomeadamente para o reinado de Dom Pedro I, autor do primeiro Foral outorgado à Vila. Acerca deste fala-nos o grande Gama Barros no terceiro volume do seu livro “História da Administração Pública em Portugal”: “D. Pedro, considerando que pela situação do lugar o pedido importa à defensão do País, resolve em carta de 7 de Junho de 1364 que Cascais fique isento da sujeição de Sintra”.

De facto, no referido Foral concedido por Dom Pedro I de Portugal à Vila de Cascais, o monarca aplica o termo “Guarda da minha terra”, não sendo possível, no entanto, provar a existência de um castelo somente a partir destas breves palavras.

Sobre este problema se debruçou também D. Fernando de Castelo-Branco na sua publicação de 1972 “Cascais nos inícios do seu municipalismo e na crise de 1383-1385”: “Dom Pedro ao conceder a Cascais a categoria de Vila, fê-lo, segundo diz, porque tal “he serviço de Deus e meu e guarda da minha terra porque aquelle logar esta em aquella costa de mar (…)”. Todavia parece-nos que a expressão “guarda da minha terra” não deverá ter o sentido de defesa do País, porquanto não pode ser interpretada isoladamente, mas sim no seu contexto: “guarda da minha terra porque aquelle logar está em aquella costa de mar”. Ora, como é óbvio, Cascais não importava à defensão do País somente por estar no litoral. Outra deve ser pois a interpretação dada a essa frase”.



No entanto, e por razões que se encontram fora do âmbito deste trabalho, a autonomia de Cascais não entra em vigor durante este reinado. Tenha sido por pressões de Sintra, cuja vida quotidiana e o equilíbrio financeiro dependiam em grande parte do porto de Cascais para a exportação dos seus produtos, ou por falta de jurisdição régia, o que se encontra provada é que foi necessária uma nova série de pedidos dos homens-bons de Cascais para que, de facto, fossem tomadas as necessárias medidas para a sua autonomia.

A primeira vez que o Castelo Medieval de Cascais nos aparece expressamente em documentos da época, é já no reinado de Dom Fernando. Este, após seis anos, confere na realidade a autonomia administrativa a Cascais, entregando-a e ao seu castelo a Gomes Lourenço de Avelar, seu fiel servidor: “Damos a elle dicto Gomez Lourenço e a todos os seus sucessores per jure derdade o nosso castello e lugar de Cascaes…”

Segundo o Dr. José Dias Arnaut, a câmara passou a ser constituída pelos juízes de cascais, por dois vereadores, um procurador do Concelho, um alcaide e alguns vintineiros (representantes decerto das freguesias que então se designavam por vintenas), um almoxarife e dois tabeliões.

Ferreira de Andrade diz-nos ainda que esta câmara reunia às portas do castelo, tal como a câmara de Lisboa às portas da Sé: “Era então usual a administração ter as suas reuniões ao ar livre e, tal como em cascais, assistida por um porteiro e por um pregoeiro”.

Assim, após este breve intróito acerca da história da edificação deste castelo, ou melhor, das hipóteses levantadas para a data da edificação do mesmo, vamos passar à sua análise efectiva, tendo como pontos de honra a delimitação geográfica-estratégica do mesmo, e posteriormente, a contabilização da sua importância para a defensão do reino e principalmente da Cidade de Lisboa, numa época tão conturbada como foi quase todo o reinado de Dom Fernando.

Resta, no entanto, referir que o Castelo Medieval de Cascais sofreu ao longo dos anos o desgaste profundo provocado pela evolução dos tempos, tendo sido alvo de actos que, de uma maneira geral, são considerados como autênticos atentados à nossa memória histórica e à nossa cultura. De lembrar que ainda nos anos quarenta do Século XX, o Visconde de Coruche, morador dentro do perímetro amuralhado do antigo castelo, nos deixou fotografias de uma das torres desse castelo, que não foi já a tempo de salvar.

Anteriormente, quer por falta de pedra para a construção das casas da vila, que pelo terramoto de 1755, quer pela construção do Paço dos Castros, que derrubou grande parte das suas muralhas, já o castelo tinha sido por várias vezes atingido, não restando actualmente mais do que uma ínfima parte do que foi, em tempos, o seu muro.

Por este motivo, e porque se torna efectivamente difícil tirar grandes conclusões de tão parca informação, vamos deixar em aberto quaisquer hipóteses de resolução do problema acima referido, permitindo que mais aturados estudos dos documentos medievais Portugueses e acima de tudo Ibéricos, nos permita compreender e inserir o Castelo Medieval de Cascais nos seus parâmetros crono-estratigráficos.


quarta-feira

História da Vila e do Concelho de Cascais





por João Aníbal Henriques

Com uma vasta história repleta de pequenos incidentes, Cascais é uma vila com um ambiente que nos envolve desde o momento em que nela entramos.

De uma maneira geral, tanto para os que dela são naturais como para os que nela somente residem, Cascais apresenta-se com um enorme potencial atractivo, e embora o presente seja uma constante no quotidiano de cada um, também o passado nos espreita por cana “vinte passos” que nela damos.

Temos vindo a utilizar com relativa frequência o nome de Cascais, embora este nome seja efectivamente recente. O seu topónimo originário, segundo algumas teses, remonta provavelmente à época romana, tendo por base termos latinos como Cascales ou Cascanes. Desde as mais elaboradas até àquelas que se rodeiam de uma espessa auréola de melancolia, espelhando de sobremaneira a tradição popular, muitas tem sido apresentadas ao longo dos últimos séculos da nossa História.



A título de exemplo, e porque é de facto aquela que até há poucos anos traduzia a forma de pensar dos pescadores desta pequena vila, vamos transcrever a do Dr. Pedro Lourenço de Seixas Barruncho, que na sua obra “Villa e Concelho de Cascaes”, publicada no ano de 1873 nos explica a origem deste topónimo da seguinte maneira: “Da origem do seu nome lemos em Bluteau, que a villa de Cascaes principiara haveria duzentos anos; que os primeiros que a habitaram foram pescadores de redes, os quais para as lançarem ao mar primeiro as mascaravam com folhas de aroeira, que se punham em molhos em tinas ou talhas grandes onde metiam as redes. Que se fora povoando a villa cada vez mais, e assim também as tinas e talhas, a que os pescadores chamavam casqueiros, parecendo que d’ahi vinha, por corrupção de vocábulo, o nome de Cascaes, originado no costume de perguntar uns aos outros – encascaste já?”

No entanto, mais verosímil, concreta e digna de consenso entre a generalidade dos historiadores que se dedicam ao estudo deste nosso concelho, parece ser a tese segundo a qual o topónimo de Cascais resultaria da evolução concreta de uma expressão amplamente Portuguesa: Cascal, ou seja, um local coberto de cascas ou conchas de marisco. Assim, o mprimeiro nome desta bonita vila terá sido o de “Aldeia dos Cascais”, o qual, por simplificação, se transformou em Cascais.

Encontra-se actualmente comprovada a estada em Cascais de um aglomerado humano desde o aparecimento do Homem, no Paleolítico. Existem disso vestígios estudados no Guincho e no Alto do Estoril, onde apareceram calhau rolados e utensílios datados desta época. No entanto, mais interessantes são as necrópoles do Poço Velho, Alapraia e São Pedro do Estoril, de onde se retirou um importante espólio ao nível da cerâmica campaniforme.

Desde o Século II a.C. que Cascais se encontra ocupado pelos romanos, e existem actualmente muitos vestígios dessa ocupação espalhados por todo o território municipal de Cascais.



Ao contrário do que até aqui se pensava, também a ocupação Árabe teve a sua importância no devir Histórico do Concelho. Para além dos topónimos que traduzem essa permanência, como Alcabideche, Alvide ou Alcoitão, de entre outros, existem também, e actualmente ainda em estudo, um cemitério e alguns silos de armazenagem de grão em Alcabideche.

Durante a Época Medieval, já seria Cascais uma aldeia com alguns recursos humanos, coadjuvados, como não podia deixar de ser, por uma vasta rede de potencialidades económicas baseadas na prática da pesca e da caça especializada, principalmente do Açor.



O Século XVII vai ser também um dos períodos mais prósperos para a vida deste pequeno município, assistindo à publicação por Frei Nicolau de Oliveira de um elogio político com vista a trazer para Portugal a corte dos Filipes, no “Livro das Grandezas de Lisboa” de 1620.



A estada de vários dos nossos ilustres monarcas em Cascais encontra-se comprovada desde D. Afonso Henriques, que segundo reza a lenda, descansou e tomou o seu repasto matinal à sombra de uma centenária palmeira que ainda em meados do Século XX existia na travessa com o mesmo nome.

D. Dinis e D. José dirigiram-se também aos meandros deste pequeno povoado, com o intuito, segundo dizem as lendas, de se banharem nas águas medicinais que são características da Praia da Poça, em São João do Estoril, e as de Santo António, na quinta com o mesmo nome a que Fausto Cardoso de Figueiredo, no início do Século passado, transformou numa das mais ilustres estâncias balneares da Europa, só comparada em qualidade com a “Cote d’Azur” Francesa.

Daí em diante, resta-nos salientar o proeminente papel que cascais vai desempenhar, quando foi escolhida para albergar a Corte durante os meses do final do Verão e do Outono, assistindo-se nessa época à inauguração da iluminação pública a gás, do telefone, do telégrafo e do comboio.



Acontecimento importante foi também a inauguração da luz eléctrica, levada a cabo como presente de aniversário do Príncipe Real, e que marcou um ponto fulcral na História recente de Portugal.

Passados estes anos dourados da sua História, Cascais é hoje a vila pacata que conhecemos, e que de uma maneira ou de outra, fazendo jus à sua essência cosmopolita, continua a atrair a atenção da generalidade da população Portuguesa e de milhares de estrangeiros que, sempre que podem, a utilizam como destino privilegiado de férias ou residência fixa.




quinta-feira

Mário Cardoso na Toponímia do Monte Estoril





O nome do falecido empresário e gestor Mário Cardoso, dá nome a um arruamento no Monte Estoril. A homenagem, promovida pela ALA - Academia de Letras e Artes com o apoio da Junta de Freguesia de Alcabideche, procura fomentar as memórias antigas que dão forma à Identidade Cascalense.

Conhecido empresário de Cascais, onde faleceu no dia 17 de Dezembro de 2003, Mário Cardoso nasceu em Monte Redondo – Arganil – em 10 de Fevereiro de 1938. Para além da sua actividade profissional, onde se destacou pela sua capacidade empreendedora e consciência social, Mário Cardoso foi Agraciado com a distinção de Cavaleiro da Ordem de Mérito Industrial pelo Presidente da Republica Portuguesa, em 1970, tendo recebido mais tarde a distinção de Citoyen Priviligiee concedido pelo Presidente da República Francesa, em 1980.

Em termos associativos, foi Presidente da Associação Comercial de Coimbra, onde desenvolveu profícuo trabalho na consolidação da vertente turística da cidade, tendo também fundado e presidido à Comissão de Melhoramentos de Monte Redondo, a sua terra natal, instituição a partir da qual se procederam a importantes obras de modernização da localidade e se asseguraram as condições mínimas para garantirem a qualidade de vida dos seus habitantes.