segunda-feira

A Ermida de Nossa Senhora da Conceição de Porto Côvo





Construída em 1760 a mando de 'Luís Mendes' e sua esposa 'Izidora P.', a Ermida de Nossa Senhora da Conceição de Porto Côvo situa-se na Quinta do Pisão, na Freguesia de Alcabideche, Concelho de Cascais.

Tendo sido construída com intuito vocativo, uma vez que a mando dos seus fundadores é ainda hoje possível encontrar, numa cartela colocada sobre o lintel da porta, uma inscrição indicando a vontade expressa de manutenção de uma memória que seria perpectuada através das missas que decorreriam todos os domingos e dias santos, o edifício em questão é mais um digno exemplar da obra reconstrutiva do património religioso cascalense após o terramoto de 1755.

Não deixa de ser curiosa a escolha de Nossa Senhora da Conceição para sua padroeira, uma vez que se trata de um edifício sepulcral. O dogma da Imaculada Conceição, fixado por Bula do Papa Pio IX, em 1854, prende-se normalmente com a atribuição a espaços relacionados com o nascimento, incentivando a ideia de pureza e da pré-existência de alguém na mente de Deus. Esta ideia está presente na iconografia religiosa Cristã desde o início da Idade-Média, consubstanciando-se na Virgem Pré-Existente, que foi mãe e esposa de Deus antes da criação de Eva. O capítulo 12 do Apocalipse de São João, por exemplo, descreve-a como um sol raiado de sete estrelas com uma lua aos pés, sendo curiosa a analogia existente entre esta simbólica e a decoração das habitações tradicionais das zonas rurais de Cascais, onde a temática lunar se afirma como fundamental.

O significado do termo 'Ermida', implícito na sua localização num terreno ermo, por certo influenciou largamente a sua estrutura, uma vez que as dificuldades físicas apresentadas pelo terreno, obrigaram à construção de um grande muro de contenção de terras que a protege e rodeia.

Os ritos de fundação de edifícios Cristãos revestiram-se, desde os tempos primitivos, de procedimentos simbólicos em que a Cidade de Jerusalém se assumia como eixo do Mundo, devendo orientar todos os locais de culto. Era normal, no mundo Cristão, orientar a disposição dos jacentes em direcção a Oriente, pretendendo-se assim que o defunto pudesse olhar o sol nascente no momento do Juízo Final. Tal, no entanto, não é o caso da Ermida de Nossa Senhora da Conceição de Porto Côvo, cuja cabeceira se encontra no sentido SE-N, contrariando a disposição mais comum e, desta forma, alicerçando a hipótese de a sua construção resultar de um aproveitamento de um local já sacralizado e, possivelmente, onde se encontraria previamente um outro monumento de culto.

A ermida apresenta uma concepção de espaço que responde à sua funcionalidade. De pequenas dimensões, tem uma simplicidade de formas nos frisos e pilastras que conjugada com outros efeitos decorativos, lhe imprimem algum dinamismo e um efeito cenográfico contido e sóbrio.

Ao entrar sobressai à vista a abóboda de berço da cobertura, ainda em estado suficientemente razoável de conservação para nela se poderem vislumbrar uns restos de frescos polícromos, que contrastam com as cores azul e branco daquilo que resta dos azulejos do altar.

No centro da capela foram sepultados os encomendadores do edifício, cobertos por uma lápide que, apesar do lastimoso estado de destruição em que se encontra, fruto de pilhagens sucessivas que se ficam a dever ao abandono em que a propriedade esteve durante muitos anos, ainda apresentam curiosos signos decorativos, provavelmente de origem iconográfica pré-clássica. São de realçar, pelo impacto que posteriormente assumem em muitos edifícios religiosos da zona rural de Lisboa, aqueles que se baseiam na ideologia egípcia, como a flor-de-lótus e a roseta. No Egipto antigo o lótus faz parte de uma das cosmogonias conhecidas. Nascido das águas primordiais, foi, por sua vez, o berço do Sol. A roseta, por seu turno, é um motivo alegoricamente relacionado com o astro principal, simbolizando a ideia de imortalidade. Na mitologia egípcia Aton é representado por um disco solar, do seio do qual, através dos olhos, saíram os primeiros homens.

Se associarmos tudo o que foi dito, podemos concluir que a Ermida de Nossa Senhora da Conceição de Porto Côvo, com toda a pujança de uma situação geograficamente estranha e de um sistema decorativo propício ao estabelecimento de relações trans-cultuais, se relaciona definitivamente com alguns dos mais antigos e importantes cultos da Ibéria pré-Cristã.

Em termos urbanísticos, e se uma investigação arqueológica fosse levada a efeito, visível se tornaria a possibilidade de a mesma resultar de um processo de adaptação do espaço face a cultos anteriores que ali foram desenvolvidos.

sexta-feira

O Euro, a China e o Futuro de Portugal




Foi hoje tornado público em Portugal, que o “sucesso” da oferta de dívida pública que o estado português colocou esta semana se ficou a dever ao facto de a China ter aceite participar mediante a abertura do capital da GALP aos empresários chineses.

Teoricamente pouco relevante, basicamente porque já todos sabíamos que era intento do actual primeiro-ministro ir ao Oriente buscar algum apoio a este nível, é no entanto um dos mais importantes dados dos últimos tempos se o integrarmos no contexto europeu.

Incapaz de responder aos muitos desafios que vão surgindo no horizonte, a Europa percebeu finalmente que não será fácil recriar-se em torno de uma federação pacificamente aceite pelos países da periferia e, acima de tudo, entendeu que toda a estratégia desenvolvida pelos países ditos mais desenvolvidos de investir nos PIGS de forma a conseguir controlá-los daqui a algum tempo, está definitivamente comprometida.

Ou seja, com a entrada da China no capital da GALP existem três constatações que deveremos reter: a primeira é a de que existem alternativas ao domínio que a Alemanha e a França pretendiam desenvolver sobre nós como contrapartida à “ajuda” que nos dariam para resolver o problema do défice que temos com eles; em segundo lugar, que o Euro que nos impingiram como sendo essencial para desenvolver Portugal só serve para consolidar o poderio federalista desses países, colocando em causa a soberania dos países a que eles chamam “periféricos”; e em terceiro lugar, para desespero da generalidade dos eurocratas, comprova-nos que sem este Euro, numa Europa de estados soberanos e livres de pactos e tratados que Franceses e Alemães nos impuseram, ficam eles próprios incapazes de responder economicamente às economias emergentes.

Resumindo e concluindo: estão a mentir aos Portugueses. A Europa que nos venderam enquanto protectora e sinónimo de transparência, rigor e lealdade no relacionamento entre os estados, é exactamente o contrário disso.

O caminho de Portugal, colocado na cabeça de uma Europa voltada ao Atlântico e estrategicamente posicionado como porta de entrada de todas estas economias novas e verdadeiramente mais transparentes, deve ser em direcção à assumpção da sua soberania Nacional.

Com esse rumo, encontraremos certamente mais oportunidades de crescimento e afirmação do que no contexto de uma Europa federada que vai, efectivamente, espezinhar e destruir os interesses dos Portugueses.

quinta-feira

Leilão Pírrico de Portugal




O Prémio Nobel da Economia, Paul Krugman, dedicou a sua intervenção de hoje no blogue que publica no Jornal The New York Times a Portugal. Fá-lo, obviamente, analisando a emissão pública de dívida que o estado português ontem lançou e que, mercê dos seus resultados, deixou eufóricos os nossos governantes e um pouco mais relaxados os nossos vizinhos espanhóis e as instâncias governativas da Europa.

Segundo ele, não existe razão de festa nos resultados ontem alcançados por Portugal nos mercados. A taxa de juro cobrada, embora um pouco inferior àquela que se conseguiu no final de 2010, está substancialmente acima das reais capacidades que Portugal tem de a pagar. Ou seja, para Krugman, a euforia e o optimismo gerados pela operação de ontem é demonstrativa do caos e da situação do mais completo desespero em que se encontra a Europa.

Para o economista, os países da periferia europeia estão há muito tempo condenados ao falhanço. Isto porque, tal como aconteceu com o General Romano Pirro, depois de ter ganho uma batalha na qual morreu a maioria das suas tropas, só resta esperar por mais uma ou duas destas “vitórias” para que a êxito da guerra fique totalmente comprometido.

Aquilo que o Estado Português ontem alcançou, foi um suspiro de alívio momentâneo na pressão da Europa para que Portugal assuma o descalabro político-económico em que se encontra. Daqui a dez anos, quando esta dívida vencer, cá estaremos nós os cidadãos, para a pagarmos à força acrescida de juros de 6,7 %.

E onde estarão nessa altura aqueles que agora nos endividaram?

terça-feira

As Fundações de Portugal




Até há cerca de 37 anos, era normal e corrente apontar 1143 como o ano da Fundação de Portugal. Marcava-se assim que formalizava o nascimento deste País e, acima de tudo, definia-se um período a partir do qual da nacionalidade se impôs a todos aqueles que habitavam neste rectângulo situado no extremo Ocidental de uma Europa completamente trespassada pelas crises sucessivas e por problemas irresolúveis em termos da gestão dos poderes vigentes.

Em 2011, mercê de um extraordinário trabalho de investigação efectuado pelo Diário de Notícias, ao qual se está a conceder pouca importância mas que é a mais cabal explicação para a situação de caos político-económico em que vivemos, ficámos a saber que existem 640 fundações de capital público em Portugal e que, desde 2008, foram criadas 88 novas fundações a um ritmo de uma a cada doze dias.

Como bem sabemos, a figura jurídica subjacente à criação da uma fundação é o fundo, normalmente legado por um fundador, para perpectuar um trabalho ou projecto numa área específica de interesse.

Ora não é nada disso que acontece com as ditas fundações públicas. Criadas por iniciativa do estado, são fundadas sobre fundos que pertencem ao contribuinte, ou seja, a cada um de nós, subvertendo assim o carácter dessas instituições.

Ao fazer isso, o estado está a enganar os cidadãos. Em primeiro lugar porque utiliza o seu dinheiro para criar essas estruturas num acto para o qual não foi mandatado, sem disso prestar as devidas contas e sem consultar aqueles que deveria representar. Depois, porque ao pagar os seus impostos, o cidadão fá-lo precisamente para se assegurar que existem os meios suficientes para que a estrutura estatal funcione e, dessa forma, possa cumprir o principal objectivo para o qual o estado existe: trabalhar para o cidadão.

Existem duas explicações possíveis para a criação de uma fundação pública a cada doze dias que passam numa época de profunda e grave crise que põe até em causa a Soberania Nacional: ou o estado assume que é incapaz de cumprir as obrigações para as quais os Portugueses o mandataram, e assim cria as fundações para suprir essas deficiências, e nesse caso – por ser incapaz – deveria ser pura e simplesmente despedido; ou, noutra perspectiva, cria as ditas fundações pura e simplesmente para assegurar que existe uma rede de cargos, lugares e posições que distribui ao conjunto de apoiantes do partido que o suporta e, nesse caso, deve ser despedido por estar a servir-se dos bens públicos em proveito próprio.

Em qualquer das situações, e volto a repetir que desde 2008, em plena crise que coloca em causa a Soberania Nacional e a verdadeira fundação de Portugal em 1143, se criaram 88 fundações por iniciativa pública, estão a enganar os Portugueses.

quarta-feira

Duarte d'Almeida - Decepado por Portugal




Numa época de profunda anomia como é aquela que actualmente atravessamos, na qual são poucos aqueles que ousam pensar e agir em acordo com a sua consciência e em nome de princípios e valores que são essenciais à vida, assumem especial importância os exemplos dos que foram capazes de se transcender em nome de Portugal.

O ser capaz de oferecer a própria vida sem esperar recompensa alguma, sempre sentido que vale mais morrer vivendo do que viver morrendo, é uma qualidade rara mas que surgiu pontualmente e em momentos muito importantes ao longo da nossa História.

Pouco conhecido na actualidade, apesar de a sua História de Vida ter sido contada e recontada como exemplo em inúmeros livros ao longo de muitos séculos, Duarte d’Almeida – o Decepado de Toro – foi figura central no Portugal do Século XV. Com a sua coragem, entrega e motivação, ofereceu a Portugal a possibilidade de se manter livre e independente, criando simultaneamente as condições necessárias para que se concretizassem os grandes feitos das descobertas.

Importa conhecer, perceber, compreender e aprender com a História de Duarte d’Almeida num início de século ávido de heróis que sejam capazes de oferecer as suas mãos para salvar este nosso Portugal…

Filho de Pedro Lourenço de Almeida e Alferes-mor de D. Afonso V, ficou conhecido na história pela alcunha do Decepado.

Ganhou notoriedade na batalha de Toro, em 1 de Março de 1476, que colocou frente-a-frente as tropas portuguesas e castelhanas, devido aos seus actos de abnegação, valentia e heroísmo.

A luta foi enorme; as quatro grandes divisões castelhanas, vendo os seus em perigo, acudiram a auxiliá-los, ao mesmo tempo que o arcebispo de Toledo, o conde de Monsanto, o duque de Guimarães e o conde de Vila Real avançavam em socorro dos portugueses.

Subjugados pela superioridade do número, os portugueses caíram em desordem, abandonando o pavilhão real. Imediatamente, inúmeras lanças e espadas o cobrem, e todos à porfia pretendem apoderar-se de semelhante troféu. Duarte de Almeida, num supremo esforço, envolto num turbilhão de lanças, empunha de novo a bandeira, e defende-a com heróica bravura. Uma cutilada corta-lhe a mão direita; indiferente à dor, empunha com a esquerda o estandarte confiado à sua Honra e lealdade; decepam-lhe também a mão esquerda; Duarte de Almeida, desesperado, toma o estandarte nos dentes, e rasgado, despedaçado, os olhos em fogo, resiste ainda, resiste sempre. Então os castelhanos o rodearam, e caiem às lançadas sobre o heróico alferes mor, que afinal, cai moribundo. Os castelhanos apoderaram-se então da bandeira, mas Gonçalo Pires conseguiu arrancá-la. Este acto de heroicidade foi admirado até pelos próprios inimigos.

Duarte de Almeida foi conduzido semimorto para o acampamento castelhano, onde recebeu o primeiro curativo, sendo depois mandado para um Hospital de Castela. No fim de muitos meses, voltou à, pátria, e foi viver para o castelo de Vilarigas, que herdara de seu pai. Havia casado com D. Maria de Azevedo, filha do senhor da Lousã, Rodrigo Afonso Valente e de D. Leonor de Azevedo. Diz-se que Duarte de Almeida morreu na miséria e quase esquecido, apesar da sua valentia e bravura com que se houve na batalha de Toro, que lhe custou ficar inutilizado pela falta das suas mãos. Camilo Castelo Branco, porém, nas Noites de insónia, diz que o Decepado não acabara tão pobre como se dizia, porque além do castelo de Vilarigas, seu pai possuía outro na quinta da Cavalaria, e em quanto ele esteve na guerra, sua mulher havia herdado boa fortuna duma sua tia, chamada D. Inês Gomes de Avelar. D. Afonso V, um ano antes da batalha, estando em Samora, lhe fizera mercê, pelos seus grandes serviços, para ele e seus filhos, de um reguengo no concelho de Lafões
”.

Adaptado do livro “Midões e o Seu Velho Município” da autoria de António Duarte d’Almeida Veiga (Benavente, 1905) e do “Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico”, Volume I, pág. 245.

terça-feira

Fulanização e Responsabilidade do Estado Português




As notícias que ontem abriram os principais noticiários, davam conta dos resultados já alcançados pelo governo português no programa de corte das prestações e apoios sociais.

Do abono de família ao rendimento mínimo garantido, foram cerca de 2,5 milhões de Euros que o estado poupou em três meses através do cancelamento de subsídios que deixaram de ser entregues às famílias. Esta medida de austeridade, considerada de forma quase unânime pelos analistas e comentadores como essencial no estado de caos em que se encontram as contas públicas, vem assim contribuir para a redução do défice e, acima de tudo, complementar o aumento de impostos que todos os Portugueses suportarão para ajudar o País a cumprir os objectivos da moeda única.

Mas apesar de ninguém a ter ainda levantado, existe uma questão premente que se coloca quando ouvimos uma notícia destas: será que foram cortados os apoios que tinham sido mal atribuídos ou pura e simplesmente se retiraram esses apoios àqueles que deles efectivamente necessitavam?

A premência da questão é maior ainda se pensarmos que durante anos a fio, por incúria, incompetência ou desinteresse do estado, houve negligência na forma como se atribuíram e foram pagos esses subsídios. É preciso lembrar que o peso da administração pública no orçamento geral do estado Português é um dos mais elevados da Europa, e que isso se deve sobretudo ao facto de todos nós pagarmos a um conjunto excepcionalmente grande de funcionários para que eles cumpram com rigor e cuidado todas essas tarefas essenciais. Ou seja, os Portugueses pagam o funcionamento de um estado ignóbil, desastrado, trapalhão e incompetente, e voltam a pagar ainda os resultados desastrosos da incapacidade que esse mesmo estado tem de zelar pelos interesses deles.

Num País onde a responsabilidade e os deveres não existem, e no qual tudo são direitos, seria importante perceber se houve gente que enganou o estado e recebeu subsídios indevidamente, e nesse caso deverão ser duramente penalizados por isso, ou se foi o estado que se enganou ao atribuir esses mesmos subsídios (com o nosso dinheiro).

Se a opção correcta for a segunda, é fundamental que se fulanize a responsabilidade; se perceba quem prevaricou; se conheçam os nomes dos incompetentes; e se faça essa gente pagar efectivamente pelo sofrimento que infligiu a todos os Portugueses.

Cascais Natura Recupera Dunas do Guincho




Decorre a bom ritmo a intervenção levada a cabo pela agência municipal Cascais Natura nas dunas do Guincho. O projecto, que está a ser realizada em conjunto com o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, e é financiado pelo Programa QREN, visa consolidar um corredor dunar possuidor de características únicas e que é essencial para a contenção das areias que estavam a avançar a ritmo acelerado em direcção à zona da Quinta da Marinha.

Os méritos da intervenção, no entanto, ultrapassam largamente os efeitos práticos e imediatos que se farão sentir ao nível da conservação da natureza. De facto, por incluir o projecto de criação de um corredor de acesso à zona Norte da praia do Guincho e de um centro de observação da natureza, a recuperação agora levada a efeito pela Cascais Natura permitirá devolver aos Cascalenses uma das mais interessantes e significativas zonas do Parque Natural Sintra-Cascais.

Criado e gerido durante muitos anos à revelia dos interesses de Cascais e da sua população, que se encontra ainda impossibilitada de entrar, visitar, conhecer e utilizar grande parte do espaço contido naquela área natural, o Parque Natural Sintra-Cascais nunca passou de um mero decreto administrativo que não impediu que ali dentro se cometessem diversos atentados contra os valores ambientais da Serra de Sintra. Exemplos gritantes disso têm sido as deposições ilegais de entulho, as construções clandestinas e a utilização da área do parque para actividades desportivas que destroem zonas sensíveis daquela área.

Com a intervenção agora concretizada no Guincho, abrem-se as portas de um espaço único inserido no Parque Natural Sintra-Cascais aos portugueses e principalmente à população de Cascais, que assim passará a poder compreender e valorizar o autêntico tesouro que esta zona do Concelho ainda encerra.

É simultaneamente uma mais valia ambiental e um importante contributo para a promoção da Identidade e da Cidadania da nossa terra.



segunda-feira

O Mito do Euro e a Federação da Europa




Notícias recentemente divulgadas pelas maiores agências noticiosas europeias, dão conta de que a moeda única europeia – o Euro – tem vinte por cento de possibilidades de sobreviver aos dez próximos anos. Isto, como é evidente, se mantiver a sua actual dinâmica organizativa e se assentar a sua existência numa Europa composta por uma união de Estados-Nação livres e politicamente independentes.

Tal como existe, o Euro tem servido basicamente para nivelar a Europa. Fê-lo utilizando a bitola de quem o idealizou e pagou, ou seja, a Alemanha e a França, que pretendiam assim alargar o espectro da sua soberania junto dos países mais carenciados e menos desenvolvidos. Nesse esforço, ambos os países investiram biliões de Euros, emprestando quantias inimagináveis aos restantes, fazendo depender a entrada na união monetária de duras e inflexíveis medidas de controle orçamental a que os restantes países estavam pouco habituados ou que nem sequer tinham capacidade administrativa para poder aplicar. Criaram-se assim dois grupos nesta Europa surpreendente: os que pagam e mandam e os que recebem os fundos comunitários e que têm de cumprir rigorosamente as ordens dos restantes. Neste segundo grupo, de uma forma de tal maneira assumida que deu origem ao designativo PIGS, com o qual a imprensa dos que mandam se refere aos restantes, estão a Espanha, a Irlanda, a Grécia e… Portugal.

Chegados a este momento, e com o actual modelo do Euro esgotado, restam duas saídas para a Europa da moeda única. Pode manter-se tudo tal como está, e a união monetária sucumbirá inexoravelmente nos próximos tempos com o descalabro social e político que se adivinha. Neste caso a Alemanha e a França deverão assumir o prejuízo inerente à perda de todo o investimento que fizeram e esquecer a ideia de que um dia os PIGS lhes pagarão com juros todo o dinheiro até aqui injectado. Ou então, como alternativa, pode proceder-se a uma revisão profunda da existência da União Europeia, introduzindo alterações que garantam a estabilidade e a manutenção do Euro. Nesta segunda opção, que passa pela efectiva federação da Europa, os estados perdem totalmente a sua autonomia, e subordinam-se política, económica e socialmente à vontade, à dinâmica, à iniciativa e às decisões tomadas pelos importantes.

As notícias que atrás mencionamos são a prova viva de que é esse o caminho já escolhido pela Alemanha e pela França para o futuro do velho continente, e que a Europa das Nações, muitas delas, como Portugal, com quase 900 anos de História, vai ser pura e simplesmente aniquilada.

Os políticos que nos meteram nesta embrulhada, e que continuam hoje (quase todos) à frente dos destinos desta ainda Nação, vêm com bons olhos esta irracionalidade, pois as metas económicas e financeiras são para eles o único caminho possível em direcção à prosperidade.

Mas enganam-se fatalmente. A Europa a que Alemães e Franceses chamam PIGS, é um continente assente em comunidades arreigadas à sua História, a cultural fortes e a usos e costumes que não são compatíveis com uma federação.

Ao levarem Portugal por este caminho, mentindo aos Portugueses a quem se diz que é o único possível dadas as circunstâncias a que chegámos, estão a condenar o nosso País a um processo longo, conturbado e cruel de caos sócio-cultural em que, como já aconteceu noutros momentos da nossa História (e acontece ainda hoje em comunidades autonómicas incluídas à força no estado espanhol), Portugueses lutarão contra Portugueses num esforço que culminará indubitavelmente na definição de uma nova soberania.

Actualmente existem ainda soluções alternativas para Portugal. O eixo com África, com a América do Sul e com a Ásia, complementado com a situação geo-estrategicamente única do País, fornecem-nos as ferramentas necessárias para tirar esta Nação da cauda da Europa e a recolocar na linha da frente. Assim haja vontade, discernimento e capacidade para o fazer.

Agora, em relação ao Euro, por favor não nos federem!

sábado

Quando Portugal Aceitou a Invasão de Timor




Documentos recentemente divulgados pela chancelaria dos Estados Unidos comprovam que a invasão de Timor pela Indonésia esteve muito longe de ter sido o ataque unilateral e terrorista que se relata nas nossas aulas de História. Antes pelo contrário. Foi previamente do conhecimento dos EUA, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia e mais tarde de Portugal, que criaram as condições políticas para que acontecesse.

De facto, com Sukarno à frente dos seus destinos, a Indonésia era desde finais dos anos 60 uma potência em franco crescimento. Os Estados Unidos da América, o Reino Unido, a Nova Zelândia e a Austrália, por motivos variados, construíam nessa altura relações bilaterais privilegiadas com a potência emergente, negociando directamente com a Indonésia questões relacionadas com as suas pretensões territoriais e utilizando como moeda de troca os interesses vários que todas tinham no petróleo existente na região.

Em reunião secreta ocorrida em Washington em 1963, as quatro potências concluíram que teriam de aceitar Timor-Leste como parte da Indonésia, pois esta seria a única forma de apaziguarem os ânimos do gigante asiático e, desta forma, assegurarem o seu próprio acesso ao petróleo. Nessa reunião, da qual não resultou nenhum contacto ou informação a Portugal, todos combinaram que não se oporiam a uma eventual invasão perpetrada por Sukarno, e que preferiam deixar cair os tratados e a amizade com Portugal do que perder as boas graças do novo poder indonésio.

Com a revolução de 1974, e a atabalhoada descolonização que Portugal levou a efeito, ficaram criadas as condições para o avanço da Indonésia e para o massacre de mais de vinte anos que dizimou uma parte substancial da população Timorense.

Mas nem assim a Indonésia avançou com os seus intentos.

Antes de passar à acção, que se concretizou somente em Dezembro de 1975, Sukarno avisou os Estados Unidos da sua pretensão, pedindo aos Norte-Americanos que não boicotassem a intervenção. A resposta de Washington, na qual teve parte activa o avisado Kissinger, não se fez esperar, e inclui um detalhe que faz toda a diferença na compreensão daquilo que foram as consequências cruéis e irresponsáveis do caos gerado pelo 25 de Abril. De acordo com a documentação Americana, a administração de Gerald Ford terá contactado o VI Governo Provisório de Portugal, liderado por Pinheiro de Azevedo, dando-lhe conta da eminência do ataque Indonésio a Timor-Leste. Portugal, em resposta, diz taxativamente que não vai opor-se à invasão, dando assim, de forma assumida, o seu apoio à pretensão de Sukarno e deixando nas suas mãos as vidas de milhares de Timorenses.

Afinal, parece que o denominado Ocidente teve muito pouca (ou nenhuma) consideração e/ou respeito pelos direitos humanos. O controle dos recursos petrolíferos e as pretensões políticas da Indonésia, EUA, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia, foram os únicos motivos ponderados em todo este enredo. O respeito pela vida dos Timorenses, que esteve em causa durante décadas, foi efectivamente um pormenor de segunda importância no processo.

Portugal, sem pudor, aceitou tacitamente tudo isto.

Quando em Agosto de 1999 oitenta por cento dos Timorenses optou pela independência num referendo promovido pelas Nações Unidas, esse mesmo Ocidente utilizou o argumento da defesa dos direitos humanos para suportar o seu apoio à pretensão e para consolidar o processo de independência relativamente à Indonésia. Mentiram descarada e cinicamente ao Mundo, aos Indonésios e aos Timorenses.

Portugal, sem pudor, participou mais uma vez na farsa, mostrando bem quais foram os princípios, os interesses e a motivação que estiveram na base da governação do País durante os anos negros a que muitos dos manuais escolares do nosso País ainda continuam a chamar "o nascimento da democracia"...