quinta-feira

Portugal e as Nacionalidades no Cáucaso






por: João Aníbal Henriques

Num Mundo como aquele em que vivemos, marcado cada vez mais pela incerteza de cunho político-cultural, faz cada vez mais sentido conhecer, analisar e tirar lições do (mesmo assim) equilibrado e seguro Devir Histórico de Portugal.

De facto, com a crise no Cáucaso na ordem do dia, e um crescente sentimento de regresso à bipolarização entre um Ocidente e um Oriente que, ao contrário do que sucedeu durante a Guerra Fria, se caracteriza muito mais pela proximidade e pelas semelhanças do que pelas diferenças, facilmente se verifica que a segurança do dia-a-dia e o bem-estar dos cidadãos não depende nem de extremismos políticos, nem tão pouco de condições económicas. Mais do que esses factores, hoje praticamente inquestionáveis por não haver no Mundo nenhuma grande potência com posições radicais como outrora, nem vicissitudes económicas que coloquem em risco as necessidades básicas da população, é actualmente a essência cultural das comunidades que determina os antagonismos que promovem os conflitos.

O período conturbado que atravessamos, que os analistas mesmo internacionalmente qualificam como difícil e de consequências imprevisíveis, resulta assim de factores externos às necessidades de índole económico-financeira, que se transformam em motivações políticas sendo, desta forma, muito mais consequências directas do que causas para o descalabro que se instalou.

No recente episódio do reconhecimento da independência dos dois territórios georgianos, a decisão unilateral russa comunicada pelo Presidente Medvedev, trás consigo o reconhecimento de posicionamentos políticos que transcendem largamente aquilo que até este momento tem sido o status quo instituído internacionalmente. Por um lado, ao reconhecer a independência dos novos Países, a Rússia afronta directamente a Comunidade Internacional e as Nações Unidas, sabendo de antemão que daí resultará um processo de choque e de cisão que parece ser assumido e previamente planeado, de forma a que o Ocidente, mesmo que desejasse faze-lo de outra forma, se veja constrangido a agir dessa maneira; por outro, e no que ao Oriente diz respeito, a Rússia constrange os seus mais importantes parceiros (nomeadamente a cada vez mais agigantada China) a assumir posições internacionais que vão comprometer o processo de homogeneização político-cultural que o Mundo tem estado a sentir, e que foi bem visível, por exemplo, nos recentes Jogos Olímpicos de Pequim.

Por detrás de todo este imbróglio, como facilmente se compreende, estão completamente perdidas as populações da Geórgia, da Ossétia e da Abkázia, às quais, ao longo do processo mediático que tem envolvido os muitos episódios que nos têm chegado, pouca ou nenhuma importância tem sido dispensada.

Mas a principal peça do jogo está precisamente aí, perdida no meio dos muitos pretextos que foram utilizados por todas as partes para avançar com o processo e para, sem nenhum respeito pelo sofrimento das populações, pura e simplesmente utilizar aqueles territórios como cenários-fantoches onde se movem interesses e interessados de várias índole.

É que, contrariamente ao que acontece em Terras Lusas, todo o território do Cáucaso está pejado de nacionalidades… Algumas, caracterizadas por profundas e coesas raízes culturais; outras com meros laivos de cariz religioso; mas todas com a força que advém de uma situação que permite ultrapassar incólumes vicissitudes diversas e mesmo períodos longos e sombrios de hibernação.

No Cáucaso como nos Balcãs, existem Nações que transcendem os Países que a História se encarregou de formar; existem nacionalidades que extravasam os factores de índole económico e financeiro; existem comunidades que não se revêem nos seus passaportes… E quando Nacionalidades existem, por muito que pese o clamor das armas e o poderio militar, não há forma de as aniquilar.

As nacionalidades são independentes de partidos, de regimes políticos e de constrangimentos conjunturais; são factores perenes que conjugam a herança genética de comunidades, misturando a História com as histórias, o colectivo com o particular, e as necessidades e sentimentos de cada um num enorme crivo de índole global.

Não compreender esta essência, e não a utilizar para enquadrar, contextualizar e conhecer o que se passa no Mundo, é condenar as decisões que se tomam (sejam elas quais forem) ao fracasso, sabendo de antemão que, na melhor das hipóteses, se conseguirá atrasar um pouco a(s) reacção(ões) que indubitavelmente irão deflagrar.

E é neste aspecto, tecnicamente essencial para o futuro do Mundo em que vivemos, que surge Portugal. Um País com 865 anos de História, mas uma Nação consolidada em torno de milhares de anos de uma vivência comum, na qual tolerância, respeito pelas minorias, capacidade de integrar, cosmopolitismo e profunda heterodoxia, marcam de forma indelével a existência e o sustento da sua comunidade.

Numa Europa marcada pela incerteza e num Mundo marcado pelo medo, existem factores perenes que importa identificar, conhecer e potencializar, e o Nacionalismo Português, longe dos significados xenófobos e racistas que alguns mal intencionados (e pouco informados) lhe querem associar, é pedra basilar.

Assim exista vontade, capacidade e interesse de quem dizem que nos governa, para agir em conformidade e para respeitar a essência de Portugal.

terça-feira

Portugal e o Desporto





Por: João Aníbal Henriques

Foi em clima de apoteose, quase uma semana depois da onda de descalabro e de revolta que se instalou no País quando Naide Gomes perdeu a possibilidade de sair medalhada de Pequim, que a comitiva Olímpica Portuguesa chegou a Lisboa.

As declarações do Presidente do Comité Olímpico (o mesmo que dias antes havia assumido pessoalmente o completo falhanço e o abandono daquele organismo) impavam de orgulho pelos “melhores resultados de sempre alcançados em jogos olímpicos”…

De imediato, quando questionado sobre o anúncio do abandono feito em Pequim, o responsável apressa-se a dizer que é o seu enorme amor à causa que o impeliu ao anúncio irreflectido que fez. E que, para além de os resultados extraordinários alcançados o terem obrigado a repensar a decisão, eram também eles suficientes para que dali resultasse uma possível recandidatura ao cargo nas eleições que se avizinham.

As televisões e demais órgãos de comunicação social que ouviam o dito senhor, registando as palavras e a satisfação latente por tudo o que foi feito na China, nada mais conseguiram fazer do que aquilo que de facto fizeram… silêncio absoluto sobre o assunto!... e nem sequer acusaram o espanto que deveria resultar deste episódio.

Mas, se pensarmos bem, que mais haveria para dizer? Nada, como é evidente…

É que, desde o princípio, quando o desastrado Secretário de Estado adjectivou como débil a participação Portuguesa nos jogos, nos quais o Estado, ao longo dos últimos quatro anos investiu cerca de 14 milhões de Euros que pertencem a todos os Portugueses, todo o processo ficou marcado pela incoerência e pelo absurdo, não sendo possível agora sequer vacilar perante mais este episódio caricato da Portugalidade.

O desporto, na sua essência, e os Jogos Olímpicos em particular, são o apelo mais sublime a alguns dos valores que a sociedade ocidental, de essência humanista, procura implantar. O desapego aos resultados, e a tónica colocada no esforço, na determinação, na pujança, no brio, no respeito pelo próximo, e na honra em participar, deveriam ser (de forma inquestionável) as principais linhas balizadoras da participação de Portugal neste importante evento Mundial.

Portugal, como o infeliz Secretário de Estado terá pensado mas não terá conseguido dizer de forma aceitável, não pode ter a veleidade de entrar nestes eventos com o objectivo único de ganhar. De facto, e infelizmente, temos uma política educativa e desportiva miserável, marcada por um sistema onde não existem condições para que os Portugueses mais aptos possam profissionalizar-se. Temos falta de infra-estruturas, de meios humanos e técnicos, de saber e de capacidade organizativa… Não temos, por outro lado, dinheiro suficiente para transformar a participação nuns jogos destes num mega desígnio Nacional, nem tão pouco temos a possibilidade de massificar nos próximos anos (pelo menos enquanto se continuarem a fazer sentir as consequências de uma revolução de mote ainda pouco definido – e ainda temos muitos anos de sofrimento pela frente até isso acontecer…) a prática do desporto de qualidade nas nossas escolas.

Desta forma, e como a generalidade dos Portugueses não tem acesso à educação desportiva, são muito poucos aqueles que usufruem da possibilidade de serem identificados como potenciais campeões e de, com essa identificação, poderem ser alvo de um investimento estatal que dê frutos para o País.

Dependemos, por isso, única e exclusivamente da sorte (como tem acontecido amiúde ao longo da nossa História), e das capacidades extraordinárias de uns tantos que, pese embora as dificuldades inenarráveis com que se deparam no seu devir quotidiano, conseguem transcender-se e treinar, rentabilizando as enormes potencialidades que possuem e afirmando-se nas suas áreas desportivas de eleição. Felizmente para Portugal, que já se sabe que não conta, não contou nem certamente contará ao longo dos próximos anos com governantes capazes de governar, são muito e bons os exemplos de campeões que conseguiram afirmar-se dessa forma e que levaram bem longe o nome, o valor e a essência de Portugal.

A todos eles o País deve estar grato pela missão impossível que cumpriram.

Em desideratos desta monta, quando a afirmação Nacional é essencial, devemos ter a dignidade e a força de assumir os desafios e de, com o apoio inequívoco de todos, contribuir para que o brio, a responsabilidade, a perseverança, e o trabalho daqueles que vão aos jogos representar o País seja sinónimo de orgulho para Portugal.

Não precisamos de responsáveis titubeantes que prometem medalhas e negoceiam apoios financeiros com Governos poucos aptos a compreender os desígnios Nacionais; não necessitamos de desportistas que fazem o favor a Portugal de ir aos jogos pelos 1500,00 € que o Estado lhes paga por mês para se prepararem; não queremos atletas que assumem debilidades que não possuem e que colocam em costas alheias as razões dos seus desaires…

Mas necessitamos avidamente de Portugueses com orgulho de representarem Portugal, com a capacidade de assumirem quem são e o que fazem; e com vontade de chegar ao fim de cabeça erguida sabendo que deram o melhor pelo País. Nesses, nós que ficamos por cá, encontramos sempre, e independentemente do lugar que ocuparam no pódio, motivo de orgulho e de reconhecimento. Desses, no meio de uma plêiade de heróis, destacam-se uns tantos que se transcendem e ao próprio País e que trazem consigo as cobiçadas medalhas que os responsáveis tantos desejam.

Vamos ver agora o que acontecerá com o grupo de heróis que representará Portugal nos Jogos Para Olímpicos…

quinta-feira

O Estado "Débil" de Portugal...





por: João Aníbal Henriques

A menos de uma semana do início de mais uma edição dos Jogos Olímpicos, vem a público um representante do Governo Português dizer que “os jogos são uma tremenda aventura para um País débil como Portugal”.

A inóspita afirmação, que todos julgam ter sido feita com a melhor das intenções, enaltecendo o valor dos atletas Portugueses que, como se sabe, têm poucas ou nenhumas condições para prepararem a sua participação em eventos desta dimensão, representa um lapso linguístico que, para além de indesculpável do ponto de vista da responsabilidade do Estado, mostra bem a despreparação, o desentendimento e a total incapacidade que o sistema político Português possui para conhecer e compreender Portugal.

É que, apesar de “débil”, foi o Estado Português quem investiu muito dinheiro público para viabilizar esta participação Nacional; é que, por outro lado, foi o Estado Português que avalizou a qualidade dos nossos atletas, concedendo-lhes esses apoios; e das duas uma… ou esse Estado é incompetente, porque avaliou mal os atletas e, apesar das suas “debilidades” acabou por apoiar indevidamente a sua pretensão de viajar até Pequim à nossa conta; ou esse Estado é incompetente, porque tendo percebido que o nosso País é “débil” na área do desporto, mesmo assim deu-se ao luxo de gastar o dinheiro de que avidamente precisamos em Portugal só para que um grupelho de gente fosse passear ao Oriente…

Mas a verdade, e essa é inquestionável, é que todos sabemos que o desporto Português (goste-se ou não) está muito longe de poder ser considerado débil, e que os nosso atletas, na precariedade de condições que o Estado lhes oferece, têm levado bem longe o nome e a pujança de um País extraordinário que é Portugal.

A menos de uma semana do início das Olimpíadas, que muitos atletas Nacionais vão enfrentar depois de anos de preparação exaustiva e investindo a própria vida na expectativa de alcançar bons resultados, vem um representante do Estado falar de um País que não existe para além das paredes sombrias da Secretaria de Estado onde o acomodaram.

Portugal é muito mais forte; muito mais sólido; muito mais estruturado; muito maior de que este secretário de estado pode imaginar.

Nos últimos 850 anos, no meio das maiores vicissitudes e de verdadeiras “debilidades” Portugal soube impor-se no Mundo. Só que não sabe disto é o Estado que, conjunturalmente, dizem que nos governa…