sexta-feira

Montemor-o-Novo: Maravilha de Portugal





Por: João Aníbal Henriques




Amanhã, numa cerimónia tida como de grandes repercussões para o nosso País, Portugal vai receber a gala que marca a escolha das novas sete maravilhas do Mundo.


A pompa e a circunstância que rodeiam o evento, com locais, monumentos e sítios candidatos ao novo estatuto em ânsia completa, contrasta com uma generalizada e descontraída postura distante que os portugueses têm demonstrado relativamente a ele.


E a razão que explica esse fenómeno tem a haver com um facto simples e de fácil percepção: Portugal, sozinho e por si próprio tem um conjunto de maravilhas que ultrapassam largamente as sete que vão ser escolhidas oficialmente no dia de amanhã.


Complementando essa certeza (que é arreigadamente aceite por todos os portugueses que conhecem minimamente Portugal), está outro facto completamente devastador… as maravilhas de Portugal, espalhadas de Norte a Sul, do Minho ao Algarve, e do Litoral ao Interior, estão na sua grande maioria fechadas, sem acesso público ou, em contrapartida num completo estado de abandono e ruína.


A título de exemplo, e somente porque é, sem qualquer sombra de dúvidas, um local maravilhoso, deslumbrante, desconhecido e… abandonado, vamos ver o que se passa com o Castelo de Montemor-o-Novo.


Neste caso específico, e reunindo tudo aquilo que lhe permitiria transformar-se num atractivo pólo gerador de riqueza turística para Portugal, o Castelo de Montemor-o-Novo está aberto ao público mas num estado de abandono e ruína avançada. Sem explicação aparente (ou pelo menos aceitável) para o facto, verifica-se que à incúria, se junta uma completa falta de informação sobre o espaço. Quem o visita casualmente, por estar em passeio normalmente em direcção à pujante cidade de Évora, debate-se com duas sensações distintas: numa primeira fase o deslumbre completo pela maravilha com que se depara; e numa segunda fase com uma dificuldade extraordinária em perceber, compreender e saber qualquer coisa mais sobre o espaço em questão.


Conclusão: quem lá chega fica deslumbrado, mas sai daí a poucos minutos completamente desiludido… e aquilo que poderia ser um espaço de memória e de memórias, torna-se rapidamente num local de má memória e de esquecimento!


Recentemente, depois de muitos anos de vil abandono, algo foi feito no espaço do castelo. Complementando escavações arqueológicas morosas (e imagina-se que complexas), foi efectuada uma importante obra de recuperação da Capela de São Tiago, que se transformou assim na única zona recuperada dentro do recinto acastelado.


Pensar-se-ia que essa recuperação poderia inverter o clima geral de degradação do espaço envolvente… mas não. Ao invés de cativar à visita, de servir de pólo explicativo e interpretativo do castelo e da Cidade de Montemor-o-Novo, de mostrar a região e de aliciar os visitantes ocasionais que por ali passam para que entendam, compreendam e promovam aquela autêntica maravilha, cobra-se à entrada uma taxa de acesso que inibe a visita ao seu interior.


Pergunta-se: será legítimo cobrar um bilhete de entrada num Monumento Nacional? A resposta é clara e evidente: Claro que sim! Ela é necessária para manter o espaço, para zelar pela sua segurança e até para cobrir custos com a investigação que permita enriquecer ainda mais aquilo que se sabe sobre ele.


Mas neste caso específico, com uma envolvência de ruína completa e de abandono total; com a paragem ocasional de viajantes que não planeiam entrar; com o carácter Nacional de mais de 90% dos visitantes; com o facto de muitos deles serem famílias portuguesas e não existir um bilhete de família o que transforma uma visita de 5 minutos num custo exagerado para 4 ou 5 pessoas; com a potencialidade que o próprio espaço tem para fornecer sentido a tudo o que está à volta…


Fazia muito sentido que não se pagasse a entrada.


Sob pena de, mesmo no meio das mais extraordinárias maravilhas que existem em Portugal, continuarmos a perder a oportunidade de deslumbrar os portugueses e de lhes mostrar que a maior maravilha que temos é, efectivamente… Portugal!