quinta-feira

Sócrates Inadmissível




por: João Aníbal Henriques




Com o enlevo que resulta das modernas técnicas de marketing político, preparando ao milímetro todos os tiques, gestos e posições assumidas pelo político no decurso de uma entrevista televisiva de grande visibilidade e impacto, José Sócrates foi à SIC descrever a paisagem do seu Portugal.


O cenário traçado, com perguntas brandas que os jornalistas lhe colocaram, foi pouco mais do que idílico. Um Portugal consistente; preparado para os desafios que enfrenta; e sobretudo ciente de que a crise que coloca em causa a qualidade de vida dos portugueses, para além de ter resultado das más escolhas dos governos anteriores, está a ser eficazmente resolvida pelo actual executivo.


De acordo com as palavras do primeiro-ministro, a educação promete vir a ter um dos futuros mais risonhos desde o início do Século XX; a saúde caminha para um estado em que nenhum português de debaterá com qualquer espécie de problema; a segurança social e a sua virtual falência será ultrapassada dentro de pouco tempo por medidas concretas (cuja descrição se escusou a fazer); e a justiça vislumbra já, pela primeira vez em muitos anos, uma situação de desafogo que garantirá que os processos deixam de se acumular nas mesas do juízes e em que todos os cidadãos poderão contar com uma resposta célere por parte dos tribunais.


Este cenário maravilhoso, que os jornalistas da SIC não questionaram mas que é colocada em causa pelo dia-a-dia dos portugueses, contrasta de forma evidente com o País Real. Portugal pode quase dizer-se que tem um sistema de justiça que não funciona; um sistema de saúde onde o conjunto de problemas de que enforma acaba por obrigar os nossos melhores médicos e técnicos de saúde a procurar no privado condições de trabalho que lhes permitam desempenhar cabalmente as suas funções; um sistema de segurança social onde o caos está instalado e no qual só medidas demagógicas e populistas vão permitindo o adiar final da crise; e um sistema educativo que é sinónimo de opressão, desigualdade e medo, não podendo pais e alunos intervir nas escolhas que dizem respeito ao seu futuro, e de livremente poderem sequer escolher a escola onde vão formar-se profissionalmente.


Mas Sócrates não fugiu aos problemas…. Pelo contrário! Mencionou o caso da Lei do Aborto e a inusitada posição da Madeira que, cumprindo a Lei vigente, apelou às instâncias da República para que seja adiada a sua aplicação até que no território existam as condições mínimas necessárias à sua concretização.


No caso em apreço, e tentando envolver eleitoralisticamente os partidos da dita oposição, Sócrates considerou inadmissível que na Madeira se tenham tomado estas decisões e que, em Portugal, os restantes partidos se tenham quedado em silêncio perante o facto.


Mas que silêncio? Mas que posições? Mas que Portugal é este de que Sócrates fala com posições cinematograficamente estudadas e poses de estadista estudadas de véspera? Que Portugal é este que não admite a um governo regional, constitucionalmente constituído e fazendo uso das prerrogativas que a Lei lhe oferece, o apelo às instâncias da República para resolver um problema que afecta a sua população? Mas que Portugal é este que Sócrates descreve como um paraíso na Terra mas onde se sente medo de falar, de expressar opiniões, de discordar de sua excelência? Mas que raio de Portugal é este, que Sócrates diz ser de respeito, e que desrespeita sistematicamente o indivíduo em detrimento do grupo, e põe a trabalhar até à morte pessoas doentes; não permite que as instituições utilizem os meios legais ao seu alcance, e persiga pessoas que, até na Internet (sem insultar sua excelência), vêm discordar do Governo? Mas que País é este onde o único problema é o não-problema mencionado pelo senhor em questão?


O que é inadmissível, num Estado de Direito, em pleno Século XXI, é que alguém institucionalmente responsável pelo País, possa vir à televisão descrever um País que não existe, deturpando a realidade e a verdade em que todos vivemos, e criando à sua volta um clima de medo que impede que se possa vir por em causa aquilo que ele oficialmente vem publicamente dizer.


Quando Manuel Alegre (socialista de sempre) mencionou ontem mesmo o medo que o Estado socialista tem vindo a fazer nascer, descreveu com acuidade, discernimento, e com total transparência, o País real que Sócrates parece não querer ver.


E o silêncio na entrevista de ontem sobre este Portugal real, é verdadeiramente inadmissível…

O Medo em Portugal




por: João Aníbal Henriques



Enfrentando uma vez mais o aparelho partidário, Manuel Alegre vem hoje a público falar do medo que tolhe o dia-a-dia dos portugueses e, principalmente, da forma como o Estado socialista tem vindo a proceder de uma maneira que promove a falta de liberdade nas suas mais variadas expressões.


O medo de que fala, mais do que directamente relacionável com um determinado problema e/ou situação, prende-se com algo de não concretizável, ou seja, a situações que, sempre pela calada e de forma não assumida, acabam por criar na comunidade um sentimento de permanente apreensão que inibe determinados tipos de comportamentos.


A gravidade da situação, que todos sabemos ter implicações directas no quotidiano dos cidadãos, no seu emprego, comunidade, vida social ou mesmo na família, é maior se pensarmos que ela tolhe (ainda mais) a já de si calcinada possibilidade de todos terem (e poderem exercer) o seu direito individual à diferença e à opinião para expressarem o que pensam e o que sentem relativamente ao Estado e ao Governo. E esta gravidade, que na prática pouco ou nada se sente em Portugal, País habituado à embriaguez de um fim-de-semana passado no centro comercial e à fila de trânsito em direcção à Quarteira ou à Costa da Caparica, é ainda mais problemática se pensarmos nas implicações que tem na prática democrática e na capacidade de representação que o Estado deve ter relativamente aos cidadãos.


Sabemos, de antemão, que a liberdade de escolha, génese da democracia, se centra na possibilidade de cada um poder exprimir a sua opinião livremente, em grande respeito pela opinião alheia, e em contribuição positiva para o bem comum. Também sabemos que em Portugal, infelizmente, essa mesma capacidade esta coarctada pelo facto de o sistema político estar controlado pelos partidos políticos que, exercendo todas as premissas que o poder lhes confere, lutam ferozmente para que a dita sociedade civil não encontre espaço de trabalho para a sua afirmação comunitária.


Por isso, ao refrear ainda mais a liberdade inerente à expressão, o medo mencionado hoje por Manuel Alegre é mais um passo no sentido da não afirmação individual e, com isso, um contributo efectivo para travar a possibilidade de criação de uma verdadeira democracia representativa em Portugal.


Depois das recentes eleições para a Câmara Municipal de Lisboa, e da desastrosa prestação dos partidos, ficou bem evidente que a democracia (tal como foi concebida pelos obscurecidos mentores de Abril) está morta. Também se viu que, mesmo preso nas teias emaranhadas dos partidos de onde saiu, o designado “fenómeno independente” teve repercussões efectivas, evidentes e drásticas nos resultados…


Parece, por isso, que o medo criado pelo aparelho socialista, que Manuel Alegre tão bem identifica no seu artigo de ontem, mais não é de que uma resposta ao medo (esse sim real e com causa definível) que o partidarizado sistema político português sente por ver aproximar-se o momento em que, afirmando-se de forma efectiva, os portugueses vão tomar conta de Portugal.


Sem medo, sem temor perante as consequências e com a coragem de quem sabe que a próxima década e a próxima geração, serão decisivas para o devir histórico de Portugal, a sociedade civil, independente, consciente e livre, vai assumir o seu destino, e criará uma nova democracia no nosso País.


Nessa altura, independentemente de ideologias, posicionamentos práticos, projectos pessoais, ambições corporativas, poder, credo ou cor, Portugal vai mostrar que é possível não ter medo.

sexta-feira

Nascer em Portugal



por: João Aníbal Henriques

No debate que hoje decorreu no Parlamento Português, José Sócrates anunciou que vai criar medidas de incentivo à natalidade.


Este anúncio, feito pouco tempo depois da publicação de estudos recentes que apontam para problemas graves na nossa pirâmide social dentro de pouco mais de uma geração, com um aumento exponencial e quase incontrolado do número de idosos dependentes relativamente aos jovens e aos adultos com capacidade produtiva, era já expectável e afigura mais uma das vicissitudes graves de que enferma o nosso sistema.


Ainda está fresca na () memória de todos os portugueses, a recente campanha a favor do aborto e contra a vida, como estará também bem presente o esforço que Sócrates e o Partido Socialista fizeram para que se legalizasse com rapidez aquela prática. Mesmo sabendo que há menos de dez anos um primeiro referendo havia chumbado a legalização da atrocidade, a pressão sistemática de grupos, partidos e organizações de esquerda, obrigaram o Governo a assumir a sua posição contrária à vida e a defesa de mais um instrumento de morte.


Sem (re)entrar na discussão argumentativa relativamente à posição anti-aborto que é, por factores históricos, religiosos e sociais, aquela que melhor traduz a essência da Portugalidade, parece ficar bem patente que o anúncio de hoje é um contra-senso que, apesar de vir ao encontro das necessidades reais de Portugal, acaba por pôr em causa as posições que o Governo tomou há poucos meses atrás.


As medidas pró-vida que o primeiro-ministro vem agora anunciar, alicerçadas em condicionantes de ordem económica, pois a falência do sistema de segurança social será acelerada à medida em que a taxa de envelhecimento populacional de agrava, são a prova mais cabal da ineficácia das nossas instituições representativas, e das motivações que, colocadas sempre à frente dos interesses de Portugal, acabam por servir de mote à tomada de posições, decisões e às intervenções públicas de quem nos diz governar.


Todos sabíamos, quando o aborto foi legalizado e até muitos anos antes (lembro-me de ouvir uma palestra sobre o efeito dada pelo antigo presidente do CDS, Lucas Pires, algures nos idos de 80), qual era o grau de envelhecimento da população, e quais as repercussões que tal tinha no devir futuro da Nação. Todos tínhamos consciência que, sem um apelo constante, permanente e profícuo à vida, feito desde os bancos das escolas, até às empresas e aos demais ramos da sociedade civil, o envelhecimento populacional que nos afecta acabaria por pôr em causa a própria existência futura de Portugal.


Por isso, quando se digladiaram em torno da legalização do aborto, todas as posições tomadas pelos partidos que nele se envolveram tiveram como critério de base não o principal interesse de Portugal, que era o de zelar pelo crescimento da nossa natalidade, nem sequer fundamentos ideológicos que suportassem as posições, mas sim o interesse eleitoralístico momentâneo que fez com que fosse politicamente correcto (e rendesse votos) ser a favor do aborto naquela ocasião. Agora, quando está em causa um eventual aumento (drástico) das contribuições para a segurança social, que é uma das únicas formas de prolongar por uns tempos a agonia do sistema, e sabendo de antemão que serão extremamente impopulares todas as medidas que se venham a tomar nesse sentido, os mesmos que defenderam a morte vêm agora defender a vida… dando o dito por não dito… contradizendo-se descaradamente… e somente porque, daqui para frente, dará votos dizer-se que se fez tudo o que era possível, para inverter esta tendência de envelhecimento de Portugal!...


A conclusão a que chegamos só pode ser uma: não representando praticamente ninguém (o Presidente da Câmara de Lisboa foi eleito recentemente com os votos de 10% dos lisboetas…), os partidos políticos que temos são nefastos aos interesses de Portugal.

terça-feira

José Saramago e Portugal





Por: João Aníbal Henriques


Apesar do respeito que fica a dever-se a muitas horas de puro deleite em torno das palavras que preenchem de forma (quase) genial as muitas obras de José Saramago, não é possível, enquanto português, deixar passar sem mágoa as últimas considerações do escritor sobre a portugalidade…


Agora, passados muitos anos sobre o episódio ambíguo que envolveu Sousa Lara e o “Evangelho Segundo Jesus Cristo”, Saramago vem dar razão ao antigo governante, demonstrando de forma cabal que os seus textos, bem como a perspectiva que possui do Mundo, dos Homens e da sociedade, são uma distorção completa e absoluta dos principais valores que deveriam presidir à organização do nosso quotidiano.


Portugal e os portugueses, Nação criada e consubstanciada há mais de 800 anos, não é passível de interpretações de carácter económico-financeiro… Portugal é uma das mais antigas Nações do Mundo e, com toda a certeza, uma das mais solidamente estruturadas no seio da Península Ibérica.


A Espanha (ou mesmo a Ibéria de que Saramago fala) não é mais do que a soma artificial de uma série de Nações diferentes e, dada a artificialidade que as agrega, sujeitas a períodos de grande conflitualidade e negação que, conforme facilmente se percebe na recente História de Espanha, são sinónimo de mal-estar, profunda crise, e insegurança no País vizinho.


Mas como, negando todos os valores, princípios e caminhos da doutrina comunista que diz defender, Saramago apela à economia para explicar a tal necessidade de Portugal se integrar no universo espanhol, também por aí se vê que nada daquilo que diz faz sentido para Portugal e para os portugueses. E por várias razões…


Em primeiro lugar porque a Nação portuguesa está hoje, no âmbito da sua integração europeia, espartilhada enquanto País pela crescente federação da Europa que, embora demasiadamente frágil para tocar nos princípios basilares da sua portugalidade, já actua de forma quase total nas estruturas representativas e governativas do País. Portugal, nos dias de hoje, mantém o estatuto de Nação, mas perdeu (parece-me por completo) a sua autonomia enquanto País. Portugal não decide, não legisla, não cunha moeda, não pode definir estrategicamente o seu futuro. Logo, Portugal já não é um País independente que possa decidir integrar-se no Estado Espanhol.


Por outro lado, e de forma consistente ao longo da sua História, torna-se fácil de perceber que nunca existiram razões concretas para a sua independência Nacional. Não há explicações de âmbito económico, financeiro, estratégico, geográfico, cultural, étnico, político, etc. A única razão que presidiu à constituição da Nação Portuguesa, tal como Sousa Lara tão bem percebeu quando exerceu o seu mandato como Subsecretário de Estado da Cultura, foi de âmbito quase sagrado, sempre em torno de princípios morais (por vezes também de cunho religioso), naturalmente partilhados desde há muito por todos aqueles que viviam neste nosso território português.


Portugal não foi criado. Portugal nasceu. Portugal nasceu de parto natural; nasceu no coração dos portugueses; Portugal está registado na informação genética da sua comunidade e no ADN dos portugueses.


É por isso que Portugal resiste a tudo… guerras, revoluções, terramotos, invasões, etc. etc. etc. É também por isso que, mesmo longe de Portugal; mesmo do outro lado do Mundo; mesmo três ou quatro gerações depois de saírem de Portugal; os portugueses mantêm a sua portugalidade… e mesmo quando a negam, emocionam-se com a nossa emoção, e vivem de coração aberto as grande causas que, pontualmente, vão mostrando ao Mundo qual é a única razão que sustenta a existência de Portugal…


Não perceber isto é não ser português. E quem não é português não pode (mesmo que queira) trair Portugal.


José Saramago, Nobel da Literatura e génio da escrita, não traiu Portugal. Pôs simplesmente em causa os princípios e os valores que norteiam um País que não é o seu, que ele não entende, que ele não é capaz de sentir…


Que viva (longe) muitos e longos anos, produzindo obras-primas da literatura Mundial. Mas que não volte a pronunciar-se (nunca mais) sobre este Nosso Portugal!


segunda-feira

Vitória de Lisboa



por: João Aníbal Henriques

Ao contrário do que muitos esperavam, foram um êxito estrondoso as eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa.


A indiferença perante o acontecimento mediático e o circo que se montou, aliado à falta de critérios, projectos, ideias sustentadas e visão real sobre o planeamento e a gestão futuros da cidade, foram a principal marca daquele que será, porventura, um dos mais importantes acontecimentos da Lisboa contemporânea.


O índice de abstenção, semelhante em termos de tendência àquele que se tem vindo a verificar paulatinamente de eleição em eleição, bateu quase todos os recordes, e os que foram votar, mostrando discernimento e capacidade de entender os muitos cenários que se poderiam colocar, escolheram faze-lo de forma minuciosa e cuidada, dando a cada um dos 12 candidatos aquilo que mereciam receber.


Vamos analisar um por um:


António Costa – O Vencedor


Desde logo cantou bem alto a sua vitória… e o que é que ele ganhou? Ganhou uma câmara sem maioria, através de um plebiscito em que o apoiaram nas urnas 57.907 cidadãos de Lisboa. É fácil de perceber que correspondem a pouco mais de 10% da população e que, pela primeira vez em 33 anos, vamos ter um Presidente da Câmara eleito por 10% dos eleitores. Mas isso retira-lhe legitimidade? É óbvio que não… apesar de ter diminuído a cotação em relação ao derrotado de 2005 (Manuel maria carrilho teve 75.022 votos), António Costa foi o mais votado de todos os pobres candidatos que os lisboetas resolverem pura e simplesmente desprezar. E qual é a sua representatividade efectiva? É fácil de perceber que ronda os tais 10% de pessoas que nele votarem, e não está muito longe daquela que caracteriza o Governo e muitos dos demais órgãos de soberania…



Carmona Rodrigues – O Herói…


Contra o partido que o elegeu em 2005; contra os restantes partidos que nele encontraram o “bode espiatório” para todos os males de Lisboa que eles próprios haviam criado; contra a comunicação social e os muitos lobbies e grupos de interesse que entendiam um bom resultado seu como uma possível machadada no seu poder e capacidade de imporem soluções para a Cidade, Carmona Rodrigues conseguiu a proeza de conquistar o segundo lugar, à frente do partido que minou o seu trabalho, e com imenso apoio popular. Sem querer entrar no campo das suposições, que nos levariam a um cenário de eleições participadas e com baixa taxa de abstenção que certamente aumentariam de forma exponencial o seu resultado e (provavelmente) lhe dariam a vitória, há que sublinhar que foi, de facto, um vencedor, mostrando a Portugal e aos portugueses que vale a pena manter a isenção, a independência e o rigor que só a sua seriedade de português lhe podem garantir.



Fernando Negrão – Qual?...


Fernando Negrão e o PSD merecem poucos comentário após o descalabro que motivaram na Câmara de Lisboa. Em relação ao partido pouco há a dizer… criou a situação ao colocar os interesses da sua estrutura à frente dos interesses da Cidade, e os lisboetas penalizaram-no por isso. Talvez a única preocupação que subsiste seja a de imaginarmos o cenário que espera este partido nas legislativas de 2009… é que, apesar do seu carácter inócuo, dentro desta ditadura partidarizada em que vivemos, é a única solução que resta como alternativa a um PS escandalosamente anti-Portugal! Quanto a Negrão, a situação é ainda mais terrível. Candidatou-se a Setúbal. Perdeu quando se percebeu que nada tinha a dar à cidade e… fugiu dali, provando que tinham razão todos aqueles que criticaram a sua candidatura contra natura. Depois foi uma recambolesca passagem pelo Governo, abordando temas, assuntos e áreas que não eram as suas e que, mesmo com o seu ar simpático e competente, comprometeram ainda mais a já enfraquecida credibilidade que trazia das margens do Sado. E por fim, quando tal deveria ser a última coisa a fazer, resolveu vir para Lisboa… Lisboa? Mas porquê? Então mas o Homem não tinha garantido ainda há 2 anos que o seu coração estava em Setúbal? Não se consegue perceber…


Telmo Correia – O Outro…


Um dos inesperados protagonistas da noite foi Telmo Correia e o CDS-PP… Pugnando com rigor, disciplina, serenidade, seriedade e empenho por um projecto novo para Lisboa (digo isto acreditando verdadeiramente que se Telmo Correia fosse eleito presidente com maioria absoluta Lisboa tornar-se-ia uma das cidade de referência no contexto europeu), não percebeu uma das mais importantes e evidentes premissas da democracia em Portugal: a Direita, com os seus valores e princípios, não gera votos em quantidade suficiente para ganhar eleições. Por isso, a reboque das gananciosas pretensões ao poder do seu popular presidente de partido, acabou por deixar de lado aquele que seria (ou deveria ser) um dos principais objectivos de todo o empenhamento que colocou na candidatura: unir a direita portuguesa a partir de Lisboa. E é fácil entender que, juntando os seus votos com os de Manuel Monteiro (ainda se podiam juntar os de outros candidatos menos ortodoxos que também acreditam, pugnam e zelam por Portugal e pelos portugueses), Telmo Correia não só seria eleito, como possivelmente conseguiria, com esse facto, fomentar uma dinâmica nova que servisse de ensejo para consolidar uma Direita responsável, consciente, e… assumidamente alheada da partidarite viciosa à qual acorrentaram Portugal.


Os restantes…


O que dizer sobre todos os outros? Possivelmente nada. Da pseudo-independente Helena Roseta (ex-PSD e ex-PS); ao comunista Rúben de Carvalho; ao inconsequente José Sá Fernandes; ao indefectível Garcia Pereira; ao cantor da Câmara Pereira; ou ao iludido Manuel Monteiro; vai um caminho curto e insidioso. Todos eles participaram no sistema e contribuíram, com o seu trabalho, para credibilizar um acto que contraria os interesses reais de Lisboa, dos lisboetas, de Portugal e dos portugueses. Os números falam por si, e se cada um deles for ver com atenção quantas foram as pessoas que se deram ao trabalho de votar em si, verão que tudo o que fizeram não merece sequer uma palavra…


Conclusão:


Apesar de tudo, de todos, de Portugal, da nossa comunidade, dos atropelos à democracia que todos dizem defender, as eleições para a Câmara de Lisboa realizaram-se. Gastou-se uma verba substancial do erário público; comprometeram-se investimentos que eram essenciais para o desenvolvimento do País; e descredibilizou-se ainda mais uma classe política ávida de poder mas vazia de projectos.


A partir de agora, com a vitória que conseguiram nestas eleições, os 62,61% de lisboetas que decidiram (e bem) não ir votar, deram todas as informações de que necessitávamos para modificar finalmente este nosso Portugal. Esperemos que, percebendo a mensagem e ao contrário do que se passou em 1974, o povo não tenha de vir à rua para devolver Portugal aos portugueses…

quarta-feira

Independentes em Lisboa




por: João Aníbal Henriques



Helena Roseta, candidata à Presidência da Câmara Municipal de Lisboa e invocando o estatuto de ‘Independente’, veio hoje afirmar, e ainda por cima de forma convicta e assumida, que os “partidos precisam de levar uma lição”.


Na situação política em que Portugal está, com um regime dito democrático onde quem manda são os partidos, e no qual a representatividade civil está reduzida a uma expressão insignificante e quase exclusivamente restringida a três ou quatro figuras despartidarizadas que, num volte face quase macabro, se independentizam em prol de uma causa (leia-se cargo), é difícil perceber que ninguém se revolta ao ouvir uma coisas destas.


E por vários motivos…


Em primeiro lugar porque a senhora em questão ocupou até agora cargos públicos de grande relevo e destaque, nos quais a independência nunca foi preocupação dominante; em segundo lugar porque a mesma senhora ocupou esses cargos à sombra de vários partidos, assumindo convictamente os ideais de cada um deles e, depois, contrariando esses mesmos ideais em defesa dos contrários que então passou a abraçar; e por último, porque ao longo da sua vida política, a senhora já foi presidente de uma das Câmaras Municipais mais importantes deste País, tendo deixado atrás de si a má memória de quem não foi capaz de gerir o Concelho em questão (Cascais) criando os instrumentos mínimos de regulamentação do território que (pelo menos) prevenissem o caos urbanístico que estava nessa altura a nascer, e que praticamente destruiu Cascais ao longo dos 20 anos seguintes.


Se, conforme parece ficar subentendido das suas palavras, é a partidarite que condiciona negativamente o desempenho político dos nossos autarcas, então teríamos qualquer coisa que explicava de razoável a sua passagem por Cascais em representação do PSD, e mais tarde pela Assembleia da República em representação do PS. E para nós, que desde há muito culpamos a falta de representatividade dos partidos que temos pelo clima de incúria permanente em que Portugal vem vivendo desde há mais três décadas, tal seria motivo de apoio incondicional e aplauso imediato.


Mas a senhora em questão foi militante socialista, desempenhando cargos de grande relevo, notoriedade e importância nessa condição, até há algumas semanas atrás! Não foi há décadas, anos ou meses que ela percebeu isso e se desfiliou. Foi há semanas! Foi somente quando precisou de se desfiliar para ser A candidata à edilidade lisboeta.


Será que tudo mudou desde a apresentação da sua candidatura à Câmara de Lisboa? Será que abriu finalmente os olhos depois de décadas partidarizadas em vários cargos públicos? O que será que aconteceu?!...


De facto, e sabendo de antemão que depois do próximo Domingo tudo vai ficar na mesma no Município de Lisboa, e que serão os mesmos partidos, da mesma forma, a negociarem entre si os mesmos apoios necessários à manutenção do seu poder, é pouco preocupante que os militantes A, B ou C deste ou daquele partido contradigam toda a sua vida abraçando a causa da independência. Aliás, é tudo de tal maneira irrelevante que quase não se percebe como ganha tanta notoriedade um acto tão inócuo e inconsequente para Portugal e para a Cidade de Lisboa.


O que é verdadeira e clamorosamente preocupante, porque mostra que vivemos hoje numa sociedade anestesiada por um sistema viciado onde quase nada é aquilo que parece, é perceber que, depois de estas palavras terem sido proferidas por quem foram, da forma como foram, na ocasião em que foram, e no local onde foram, não se vislumbram reacções de maior por parte dos portugueses.


E a razão para essa preocupação é simples de perceber: já não existe Sociedade Civil em Portugal! Parece que morreram finalmente, depois de trinta e três anos de sofrimento, os últimos resquícios do verdadeiro Portugal.


Agora, de forma comprovada, podem todos os partidos (legalizados) respirar de alívio, porque já não há ninguém que os impeça de dizer e fazer o que lhes interessa…


sexta-feira

Montemor-o-Novo: Maravilha de Portugal





Por: João Aníbal Henriques




Amanhã, numa cerimónia tida como de grandes repercussões para o nosso País, Portugal vai receber a gala que marca a escolha das novas sete maravilhas do Mundo.


A pompa e a circunstância que rodeiam o evento, com locais, monumentos e sítios candidatos ao novo estatuto em ânsia completa, contrasta com uma generalizada e descontraída postura distante que os portugueses têm demonstrado relativamente a ele.


E a razão que explica esse fenómeno tem a haver com um facto simples e de fácil percepção: Portugal, sozinho e por si próprio tem um conjunto de maravilhas que ultrapassam largamente as sete que vão ser escolhidas oficialmente no dia de amanhã.


Complementando essa certeza (que é arreigadamente aceite por todos os portugueses que conhecem minimamente Portugal), está outro facto completamente devastador… as maravilhas de Portugal, espalhadas de Norte a Sul, do Minho ao Algarve, e do Litoral ao Interior, estão na sua grande maioria fechadas, sem acesso público ou, em contrapartida num completo estado de abandono e ruína.


A título de exemplo, e somente porque é, sem qualquer sombra de dúvidas, um local maravilhoso, deslumbrante, desconhecido e… abandonado, vamos ver o que se passa com o Castelo de Montemor-o-Novo.


Neste caso específico, e reunindo tudo aquilo que lhe permitiria transformar-se num atractivo pólo gerador de riqueza turística para Portugal, o Castelo de Montemor-o-Novo está aberto ao público mas num estado de abandono e ruína avançada. Sem explicação aparente (ou pelo menos aceitável) para o facto, verifica-se que à incúria, se junta uma completa falta de informação sobre o espaço. Quem o visita casualmente, por estar em passeio normalmente em direcção à pujante cidade de Évora, debate-se com duas sensações distintas: numa primeira fase o deslumbre completo pela maravilha com que se depara; e numa segunda fase com uma dificuldade extraordinária em perceber, compreender e saber qualquer coisa mais sobre o espaço em questão.


Conclusão: quem lá chega fica deslumbrado, mas sai daí a poucos minutos completamente desiludido… e aquilo que poderia ser um espaço de memória e de memórias, torna-se rapidamente num local de má memória e de esquecimento!


Recentemente, depois de muitos anos de vil abandono, algo foi feito no espaço do castelo. Complementando escavações arqueológicas morosas (e imagina-se que complexas), foi efectuada uma importante obra de recuperação da Capela de São Tiago, que se transformou assim na única zona recuperada dentro do recinto acastelado.


Pensar-se-ia que essa recuperação poderia inverter o clima geral de degradação do espaço envolvente… mas não. Ao invés de cativar à visita, de servir de pólo explicativo e interpretativo do castelo e da Cidade de Montemor-o-Novo, de mostrar a região e de aliciar os visitantes ocasionais que por ali passam para que entendam, compreendam e promovam aquela autêntica maravilha, cobra-se à entrada uma taxa de acesso que inibe a visita ao seu interior.


Pergunta-se: será legítimo cobrar um bilhete de entrada num Monumento Nacional? A resposta é clara e evidente: Claro que sim! Ela é necessária para manter o espaço, para zelar pela sua segurança e até para cobrir custos com a investigação que permita enriquecer ainda mais aquilo que se sabe sobre ele.


Mas neste caso específico, com uma envolvência de ruína completa e de abandono total; com a paragem ocasional de viajantes que não planeiam entrar; com o carácter Nacional de mais de 90% dos visitantes; com o facto de muitos deles serem famílias portuguesas e não existir um bilhete de família o que transforma uma visita de 5 minutos num custo exagerado para 4 ou 5 pessoas; com a potencialidade que o próprio espaço tem para fornecer sentido a tudo o que está à volta…


Fazia muito sentido que não se pagasse a entrada.


Sob pena de, mesmo no meio das mais extraordinárias maravilhas que existem em Portugal, continuarmos a perder a oportunidade de deslumbrar os portugueses e de lhes mostrar que a maior maravilha que temos é, efectivamente… Portugal!

terça-feira

ISAF - Cascais e o Mundial de Vela 2007...




por: João Aníbal Henriques

Começa hoje em Cascais o Campeonato do Mundo de Vela, numa iniciativa de grande visibilidade e notoriedade que colocará a Costa do Estoril nos principais órgãos de comunicação social do Mundo durante pelo menos 15 dias.


Trazendo a Cascais algumas centenas dos principais velejadores do Mundo e, simultaneamente, alguns dos mais conceituados jornalistas internacionais, o Mundial de Vela é também mote para a visita de numerosas comitivas oficiais, comités olímpicos, representantes de diversos estados, etc., facto que transforma este evento num acontecimento único na região.


Com o seu carácter de excepção, pela qualidade dos participantes e pela repercussão que terá na assumpção de Cascais como destino principal desta modalidade, o Mundial de Vela de 2007 é também uma oportunidade dourada para mostrar a Costa do Estoril, Lisboa e o próprio País, aproveitando o facto de estarem cá os denominados “opinion makers” da actualidade.


A ideia (errada) que ainda subsiste lá fora, de que Portugal é um País que em termos turísticos se resume ao Algarve, com as suas praias, água morna e desordenamento urbanístico, pode ser agora invertida, mostrando o que temos, e deslumbrando os que cá estão com o nosso património, História, monumentos, paisagem, clima, gastronomia, vinhos, campos de golfe, etc. etc. etc.


No entanto, e apesar desta reconhecida importância que o evento poderia ter para Portugal, Cascais e a Costa do Estoril, parece que muito pouco está a ser feito nesse sentido. A hotelaria local está com uma de ocupação que ronda os 50%; o comércio local queixa-se de uma crise acentuada devido aos constrangimentos ao nível do tráfego e do estacionamento que afastam de Cascais os visitantes usuais sem trazer como contrapartida novos públicos; e os restaurantes só com dificuldade vão conseguindo convencer os clientes locais a um esforço acrescido para continuarem a utilizar os seus serviços.


Em termos de promoção, e sem explicação aparente, nada se fez para deslumbrar os novos visitantes. Chegam à região; instalam-se no hotel; saem de manhã para assistir às regatas; e todo o tempo livre é gasto em Lisboa e Sintra… É ali que fazem compras; visitam museus; jantam; e se divertem à noite, voltando a Cascais unicamente para repetir a rotina do dormir e assistir às provas.


Estando no primeiro dia de provas, e com mais doze daqui para a frente, esperemos que seja ainda possível inverter a situação, criando as condições necessárias para que todo o esforço e investimento que Cascais está a fazer neste evento, tenha por parte das entidades responsáveis pela organização do mesmo, o reconhecimento que merece…


segunda-feira

Portugal, a Europa e... África!



por: João Aníbal Henriques


Num brilhante artigo de opinião no Diário de Notícias de hoje, o jornalista Sena Santos, provavelmente imbuído do espírito europeu que resulta do início da Presidência Portuguesa da União Europeia, apresenta a Portugal o nunca concretizado (mas sempre presente) projecto de criação dos Estados Unidos de África.

Citando o Presidente da Líbia, Sena Santos refere ainda que a divisão no continente africano se fica a dever à intervenção da Europa e dos Estados Unidos que, dependendo em grande escala dos recursos daquele continente, geram uma série de estratégias político-económicas que procuram manter em clima de grande instabilidade os muitos países ali existentes.

Se olharmos para a História recente do Mundo, há um facto que corrobora as opiniões tantas vezes insensatas do presidente líbio… a Conferência de Berlim, de génese europeísta, traçou com régua e esquadro (para não dizer com esquadro e compasso) o novo mapa das “nações” africanas, impondo um desenho de fronteiras que nada tem a haver com as reais Nacionalidades milenares (com bases políticas, económicas, religiosas e sobretudo culturais) pré-existentes. Misturaram-se etnias, credos, cores, interesses, princípios e doutrinas em nome de pseudo-nações que nunca o foram, e gerou-se um clima de instabilidade permanente, morte constante e fome assolapada, que resulta do facto de esses países não possuírem este substrato Nacional.

E quem ganhou com isso? A resposta é óbvia e de todos conhecida… os Estados Unidos da América e a Europa dita industrializada. Ambas as partes, apoiando e desapoiando grupos, grupelhos, pseudo-partidos políticos e formas de viver culturalmente impossíveis de concretizar naquele continente, fomentaram a guerra permanente em nome de uma democracia que serve de desculpa e pano de fundo para tudo aquilo que por ali se queria fazer.

Mas em primeiro dia de presidência portuguesa, chegamos finalmente a Portugal!

Portugal, situado num extremo do velho continente, e com as costas voltadas à Europa, assume milenarmente a sua vocação atlântica. E essa, como desde cedo o perceberam os nossos avoengos predecessores, só poderia resultar numa aproximação àqueles que connosco partilham sentimentos, crenças, interesses e emoções.

África, ali mesmo à frente do nosso nariz, partilha connosco quase tudo. Que o digam os milhares de africanos que connosco vivem desde há gerações, e os muitos portugueses que durante Séculos viveram, nasceram, cresceram e morreram em África, e de onde não teriam retornado se não fossem as revoluções que nos impuseram…

E um pouco mais à frente, já no continente americano, o Brasil… com quem desde sempre partilhámos tudo, e com o qual metade dos portugueses se identificam claramente. Agostinho da Silva, na sua faceta de erudito da portugalidade, dizia amiúde que o Brasil é África com coração de Portugal.

E agora, quando José Sócrates (o engenheiro) vem dizer que existe um largo consenso sobre europeísmo em Portugal, parece impossível que ninguém lhe explique duas coisas essenciais:

1. Portugal é muito mais africano do que Europeu;

2. Nuns Estados Unidos de África, riquíssimos em termos culturais, em termos de recursos, em termos de meios humanos, em termos de matérias-primas, etc. Portugal, enquanto enclave africano na Europa, poderia fazer toda a diferença, a bem de si próprio, dos portugueses e de milhões e milhões de africanos que, dessa forma, teriam podido evitar guerras, fomes, doenças e o controle externo que desde há mais de trinta anos os tem vindo a afectar.

No início da presidência portuguesa da Europa só apetece gritar bem alto: Viva África!