quarta-feira

O Castelo de Marvão


por João Aníbal Henriques

Recortado na paisagem impactante da Serra de São Mamede, sobranceiro ao Rio Sever e à linha de fronteira que separa Portugal de Espanha, o Castelo de Marvão é um dos mais importantes e interessantes monumentos nacionais.

Tendo sido construído originalmente pelos romanos sobre os restos arqueológicos de uma velha fortificação castreja, o castelo responde desde sempre à sua localização estratégica sobre aquela região, permitindo controlar visualmente um vastíssimo território que é essencial nos momentos mais inquietantes de guerras e de violência.



Existente de forma plena durante o período de ocupação moura, terá sido quartel-general do importante chefe árabe Ibn Meruan, que ali se terá instalado de forma a assegurar o sucesso da ofensiva militar islâmica sobre as tropas muito deficitárias que restavam aos velhos poderes visigodos. As suas muralhas, providas de um reforço natural pelo aproveitamento dos maciços rochosos onde foram erguidas, conheceram nesse período momentos de grande turbulência, estando na primeira linha de defesa dos novos poderes e, por isso mesmo, sempre sujeitas a eventuais tentativas de ataque por parte das forças inimigas.

Por esse motivo, quando Dom Afonso Henriques reconquista o território em 1166, terão sido motivo de pequenas obras de consolidação e de melhoramentos diversos de forma a assegurarem cabalmente as necessidades defensivas do novo reino.



A sua importância está atestada documentalmente desde 1226 quando o Rei Dom Sancho II lhe confere uma Carta de Foral, posteriormente reconfirmada pelo Rei Dom Manuel em 1512.

Durante o reinado de Dom Dinis, as velhas paredes defensivas foram profundamente adaptadas, assistindo-se à construção da torre de menagem que hoje ainda ali vemos e pela consolidação das estruturas amuralhadas que se prolongam desde a barbacã estendendo o domínio defensivo do castelo a toda a vila de Marvão.



Serão provavelmente contemporâneos da já referida Torre de Menagem a imponente praça de armas do castelo e, sobretudo, a relevantíssima cisterna que possuía capacidade de manter a população provida de água durante longos seis meses de um qualquer ataque que os sitiasse ali dentro.

Altaneiro, como quase todos os castelos medievais portugueses, o Castelo de Marvão define-se a partir da forma como se impõe cenograficamente em toda a região. As suas paredes ancestrais, desenhadas de forma sublime ao longo de várias gerações de gentes que delas dependeram para defender a sua própria vida, gemem ainda os ecos antigos do imenso sofrimento a que já assistiram. E rejubilam também, por vezes de forma um pouco incauta, perante as recordações extraordinárias que vitórias que em virtude delas ali foram conseguidas.



Todo o espaço está prenhe de significado. Todos os detalhes denotam de forma muito firme a Identidade de Portugal!

A Vila de Marvão no Alentejo



por João Aníbal Henriques

Quando se entra em Marvão, depois da subida de 862 metros da Serra ancestralmente designada como Hermínios Menores, em contraponto com a Serra da Estrela, que se vislumbra no horizonte e que se chamava Hermínios Maiores, os sentidos ficam impregnados de uma singela sensação de deslumbramento.

As ruelas, marcadas pelo desenho ancestral da sua origem árabe, serpenteiam através da orografia do território, compondo um cenário idílico que nos transporta de imediato para outras eras e para outros tempos. As fachadas das casas, fazendo contrastar a brancura da cal com as cores fortes e duras do granítico, apresentam-se majestosas, ostentando orgulhosamente os seus ferros forjados e as cantarias góticas que denotam a importância e relevância que o burgo já teve ao longo da sua história.



Construída provavelmente sobre os restos de um assentamento castrejo ainda pré-histórico, basicamente porque a sua localização elevada e estrategicamente disposta de forma a prever eventuais ataques inimigos e a defender a população e as suas riquezas minerais assim o determinou desde o dealbar dos tempos, Marvão foi inicialmente um burgo romano. Naquele lugar, por onde se cruzavam importantes rotas viárias essenciais para a sobrevivência e para a pujança do império, confluíam interesses diversos que definiram a necessidade de povoar o local e de promover condições de atractividade para todos aqueles que por ali viviam cumprindo as suas obrigações sociais.

Será dessa época o desenho inicial da sua estrutura edificada que, aproveitando as características naturais do povoado, define um perímetro protegido de ataques e de perigos e, dessa maneira, promovendo a segurança necessária ao estabelecimento de comunidades humanas que escolheram o local para edificar as suas habitações. A sua forma alongada, prolongando artificialmente até ao castelo a orografia natural do território, controla visualmente uma vasta região que vai até à já mencionada Serra da Estrela, num plaino abrangente que lhe confere características únicas de habitabilidade no contexto de então.



Durante a ocupação árabe, depois do Século VIII, Marvão ganha a configuração definitiva que hoje lhe conhecemos. Até porque a sua importância estratégica e militar, numa lógica de aculturação que os ocupantes africanos consigo trouxeram e que aplicaram na generalidade das terras conquistas na Península Ibérica, exigia que um ponto tão relevante como este fosse devidamente cuidada, ocupada e defendida.

Terá sido encarregue de tal desiderato o importante chefe muçulmano de Coimbra Ibn Meruam que ali se instalou e se encarregou de adaptar o espaço às necessidades de defesa destes novos tempos. Terá sido, aliás, a deturpação do seu próprio nome que definiu o próprio topónimo da localidade. Meruam que evoluiu para Mervam depois da reconquista cristã e, por fim, a palavra Marvão que hoje conhecemos.




Integrada no novo Reino de Portugal desde 1166, ainda durante o reinado de Dom Afonso Henriques, Marvão depressa assumiu a sua importância enquanto guardiã da fronteira e dos ataques vindos do actual território de Espanha. E, precisamente nessa perspectiva, recebe em 1226 a sua primeira Carta de Foral que lhe foi conferida pelo Rei Dom Sancho II. Mais tarde, já por decisão do Rei Dom Dinis em 1299, vê a sua velha estrutura defensiva intervencionada e transformada num verdadeiro castelo capaz de desempenhar as suas importantes funções no contexto bélico que caracterizava aqueles tempos.

Em 1512, quando o Rei Dom Manuel lhe confirma a sua Carta de Foral, já Marvão era um importante e influente centro administrativo, dotado da capacidade de contribuir de forma evidente para o reforço da própria capacidade autonómica de Portugal.



A pacificação da fronteira, sentida durante essa época, terá porventura sido decisiva na perda da importância estratégica de Marvão nos anos subsequentes. E, por esse motivo, assiste-se a uma fuga da população para as vilas e aldeias existentes no sopé da serra, mais abrigadas das agruras do clima e com uma acessibilidade melhorada para motivarem o comércio e os transportes. A situação tornou-se de tal forma dramática que ainda no Século XVI se estabelece um Couto dos Homiziados como forma de motivar a instalação de nova população.

De acordo com essa legislação, que perdurou até 1790, a instalação em Marvão libertava os moradores que ali se fixassem de acções judiciais de que tivessem sido vítimas por crimes que tivessem cometido anteriormente… E a limpeza do cadastro criminal foi motivo para a instalação de muita gente!



Digna de nota especial, por entre o extraordinário conjunto de monumentos religiosos que a povoação apresente, é a Capela de Nossa Senhora da Estrela, construída fora de portas e abrigada no seio de um convento do Século XV.

Reza a lenda que por ali se venerava desde o tempo dos Visigodos uma imagem de Nossa Senhora trazida pelos povos Hermínios desde a longínqua Serra da Estrela. E depois da Batalha de Guadalupe, onde sanguinariamente o Rei Godo Rodrigo foi derrotado pelos mouros, de forma a proteger a imagem de ultrajes que viessem a ser perpetrados pelos infiéis, foi a mesma escondida no meio das penedias que envolvem Marvão onde ficou até se lhe perder por completo o rasto ao longo de três séculos.

Quando da Reconquista Cristã, numa noite cálida do verão alentejano, um pastor que por ali circulava com o seu rebanho terá sido deslumbrando com uma estrela com uma fortíssima luz que o foi guiando até ao esconderijo onde se guardava a imagem. E, redescoberta, foi construída a capela e encetado um culto muito significante que é parte essencial da devoção identitária do povo de Marvão.

A Magnífica Igreja da Ressurreição de Cristo em Cascais

por João Aníbal Henriques

Situada no preciso local onde actualmente se encontra a estação de comboios, existiu até ao grande terramoto de 1755, uma das mais magníficas igrejas de Cascais. Cabeça da freguesia da Ressurreição de Cristo, que se estendia até à margem Nascente da vetusta Ribeira das Vinhas, a freguesia congregava os mais abastados cascalenses da sua época.

Dedicada à Ressurreição de Jesus Cristo, a igreja matriz possuía nove altares que davam forma à sua nave central: Santa Bárbara, Nossa Senhora da Purificação, São Francisco, Santo André, Nossa Senhora da Vitória, Nossa Senhora de Guadalupe, Santiago Apóstolo, Nossa Senhora dos Remédios e Senhor Jesus.

Na manhã de 1 de Novembro de 1755 o terrível Terramoto de Lisboa destruiu-a por completo, gerando um cenário de ruína que o prior de então entendia ser irrecuperável, tal como se pode ler nas “Memórias Paroquiais” que dão conta da amplitude da catástrofe.  

Mesmo assim, na pobreza extrema em que viviam nessa altura terrível, os pescadores de Cascais ainda se quotizaram para recuperar a sua igreja. Mas infelizmente não foi possível concretizar esse seu sonho e a velha igreja transformou-se numa mera recordação que perdurou ao longo de muitas gerações na memória colectiva dos cascalenses.

segunda-feira

Livro "O Outro Cascais" - 30º Aniversário da Fundação Cascais em São Domingos de Rana


A gestão de um município, em linha com a ancestral tradição municipalista que dá forma a Portugal, conjuga-se no tempo futuro. É aí, perspectivando planos e projectos eivados pela ambição de oferecer melhor qualidade de vida aos munícipes, que se encontram plasmadas as potencialidades e as oportunidades de melhor fazer.

Mas, como dizia Santo Agostinho, a conjugação do tempo futuro concretiza-se no presente. Porque é agora que o futuro se prepara e é hoje que se definem os caminhos que preparamos para serem trilhados amanhã…

E todos sabemos que neste desafio que se pretende sustentado e sustentável, os alicerces estão obrigatoriamente no passado. Estão na Identidade, na Cultura, nos usos e nas tradições de um povo que herda geneticamente as qualidades dos seus antepassados acrescentando-lhes no presente os ímpetos de excelência que serão a marca do seu futuro!

Por isso, no âmbito das comemorações do 30º aniversário da Fundação Cascais, provavelmente a mais municipalista de todas as instituições criadas em Portugal, apresentei publicamente o meu livro “O Outro Cascais” numa cerimónia plena de simbolismo na mais significante sala da nossa terra.

Este livro representa um fechar de ciclo, na freguesia de Cascais que me faltava tratar de forma coerente: São Domingos de Rana. Não só porque foi ali que em 1993 demos os primeiros passos no sentido de trazer até à luz a excelência extraordinária daquele recanto de Cascais, como também porque é em São Domingos de Rana que se concentram as maiores e melhores oportunidades e potencialidades que garantem ao concelho um futuro congruente.

É um passeio que calcorreia os caminhos, os becos e as veredas das terras de Rana e, uma vez mais, se insinua por entre as histórias da História daquelas gentes. Porque o Outro Cascais, aquele que se pressente no presente de São Domingos de Rana, é o futuro que desponta já neste imenso presente. Mas é também um tempo dourado pelas memórias sentidas de gerações consecutivas que ali viveram.

Fecho este ciclo com os parabéns à Fundação Cascais, onde está muito da minha alma e coração. Na certeza de que estes 30 últimos anos serão o mote que definirá o futuro de todos os cascalenses. E um agradecimento muito especial à Câmara Municipal de Cascais, que nos permitiu juntar-nos no Salão Nobre dos Paços do Concelho, bem como a todos os que connosco lá estiveram e que tiveram a oportunidade de partilhar a emoção profunda que se associa a um livro de História de Cascais focado no futuro da Nossa Terra.

As fotografias são da autoria do Guilherme Cardoso, do Luís Bento e do Gonçalo Borges Dias a quem igualmente agradeço. Porque os rostos que eles registaram representam a esperança de um futuro ainda melhor para as futuras gerações de cascalenses!

A todos o meu agradecimento!

João Aníbal Henriques











Fotografias de Guilherme Cardoso | Luís Bento | Gonçalo Borges Dias



Convite para a Apresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques


CONVITE

A Fundação Cascais, no âmbito do seu 30º Aniversário, com o alto patrocínio da Câmara Municipal de Cascais, vem convidar V. Exa. para a sessão de apresentação do livro "O OUTRO CASCAIS 30 Anos da Sociedade Civil e a Fundação Cascais" da autoria de João Aníbal Henriques que terá lugar no próximo dia 4 de Novembro, pelas 18:00h, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Cascais, na Praça 5 de Outubro 1, 2750-320 Cascais


sexta-feira

Papa Francisco em Cascais


por João Aníbal Henriques

As palavras não chegam para traduzir a profunda emoção sentida por centenas de milhares de Cascalenses que encheram as ruas da vila para receber o Papa Francisco na sua visita a Cascais. Dois mil anos depois e pela primeira vez na nossa terra, um Papa pisou o território de Cascais trazendo consigo uma mensagem de profundo significado para este Mundo em profunda convulsão. Foi uma visita que recriou a verbalidade dos tempos, pois tendo decorrido no presente, já era, ainda antes de acontecer, um pedaço da nossa história, reformatando a memória e a própria identidade de Cascais. Ficam as imagens possíveis, porque a história faz-se por si própria, entranhada que ficou no pensamento mais profundo do povo de Cascais.











(fotografias da CMC)

quinta-feira

A Invasão Espanhola a Cascais


por João Aníbal Henriques

Há precisamente 443 anos, Cascais participou num dos mais negros episódios da História de Portugal. No dia 27 de Julho de 1580, o comandante das tropas espanholas encarregue por Filipe II de Espanha de invadir Portugal, decidiu concretizar o seu plano de ataque a Lisboa por terra, desembarcando as suas tropas na Laje do Ramil, junto ao Farol da Guia, com o apoio expresso de D. António de Castro, Conde de Monsanto e Senhor de Cascais, que havia traído a Causa Nacional e apoiado o invasor. Dada a disparidade de forças, o pequeno reduto de portugueses que defendia Portugal logo percebeu qual seria o desfecho previsível da contenda. Mas, liderado pelo herói Dom Diogo de Meneses, preferiu entregar corajosamente a sua vida a entregar ignobilmente a bandeira nacional. A invasão aconteceu no dia 29 de Julho e D. Diogo de Meneses foi barbaramente executado pelos espanhóis na Fortaleza de Cascais no dia 2 de Agosto, sacrificando-se para salvar a honra de Cascais e de Portugal. Inspiremo-nos na sua memória!







segunda-feira

O Museu do Mar, o Rei Dom Carlos e o Sporting Clube da Parada em Cascais


por João Aníbal Henriques

Diz Pedro Falcão na sua incontornável obra literária “Cascais Menino”, que é impossível falar de Cascais sem mencionar o Sporting Club da Parada. De facto, desde 1879, quando os terrenos da antiga parada militar da Cidadela de Cascais foram desanexados para se constituir o clube cascalense, que este se tornou no coração da vida social, cultural e política de Cascais e do Portugal de então.

O Sporting Club da Parada era um espaço exclusivo, num recinto murado e fechado, onde só entravam aqueles que pertenciam à elite local. Foi ali, mercê do empenho e espírito empreendedor de gente relevante das principais famílias tradicionais de Cascais, como os Avillez, os Ereira, os Falcões, os Pinto basto ou os Castelo-Branco, que se constituiu o núcleo pensante do Cascais da Monarquia, onde reside a génese do Cascais cosmopolita e visceralmente turístico onde hoje vivemos.



Mas há uma figura que se impõe na forma como nasceu, cresceu e se consolidou o Sporting Club da Parada e a própria Vila de Cascais. El-Rei Dom Carlos, que entre outros predicados possuía uma vastíssima cultura marítima e um amor incondicional ao mar de Cascais e a tudo aquilo que lhe diz respeito, foi peça fulcral na transformação da velha vila piscatória num burgo pujante e de referência no panorama português do final do Século XIX.




A sua ligação forte à Parada e à vida social que ali se consolidava, resulta de forma eficaz num catalisador que eleva Cascais às mais altas instâncias da aristocracia e do empresariado de então. As grandes figuras da nação e os grandes problemas políticos e económicos que ensombraram Portugal entre 1879 e 1950 passaram todos pelo escrutínio apetado dos cascalenses que fruíam da Parada de Cascais como fórum relevante para a discussão do futuro de Portugal.

E na área dos desportos, do ténis ao futebol, passando pelo cricket, pelo golfe ou pelo rugby, foi no velho recinto da Parada de Cascais que nasceram os seus embriões, catapultando o prestígio e a glória da vila cascalenses até paragens além-fronteiras. As primeiras gincanas automóveis aconteceram ali e foi dentro daquele recinto que as grandes figuras do ciclismo português deram os primeiros passos no sentido de colocar Portugal como referência nesse desporto a nível internacional.

A ligação forte do Rei Dom Carlos ao Clube da Parada, cruzada de forma permanente com a sua relação profícua com o mar, fizeram com que tenha sido ali que muitas vezes o monarca reunia as grandes figuras das artes plásticas nacionais para discutir posições e para definir caminhos novos para a cultura portuguesa. As suas pinturas, maioritariamente dedicadas ao mar, aos barcos e aos recortes pitorescos da costa de Cascais, conheceram ali a sua apoteose, quando o Rei, nos saraus magníficos ali organizados, os oferecia aos seus amigos frequentadores deste espaço indiscutivelmente essencial para a vida quotidiano de muitos portugueses.




Quando em 1974 aconteceu a revolução portuguesa, o Sporting Clube da Parada foi encerrado, ocupado e o seu espólio saqueado sem apelo nem agravo. E o espaço, outrora prenhe daquilo que era a génese social da vida nesta pequena terra, ficou abandonado até 1976, quando a edilidade resolveu adquiri-lo e adaptá-lo a museu.

O Museu do Mar, que a partir de 1997 ganhou o cognome do rei pintor, cientista e poeta, era uma aspiração antiga do povo cascalense. Com um impulso muito sentido da sociedade civil local, que se uniu em torno deste comum desiderato de adaptar os velhos pavilhões do Clube da Parada no Museu do Mar, depressa o museu do mar reassumiu a essência maior do recinto de outros tempos, recuperando a memória e a alma do Cascais de sempre.

Hoje existem outros museus extraordinários na nossa terra. Existem espaços culturais dotados de moderna tecnologia e de condições de visitação que mantêm Cascais na primeira linha da oferta cultural dos portugueses. Mas nenhum desses espaços tem, pela sua localização, pelos edifícios que o compõem, pela ligação anímica a Cascais e aos Cascalenses, a importância que o Museu do Mar vive quotidianamente.




Assim que entramos no portão, percorrendo a velha alameda que nos leva até ao pavilhão principal onde se situada a recepção do Museu do Mar, sentimos no ar as memórias muito vividas de um espaço onde nasceu e se afirmou o Cascais onde hoje vivemos. É ali, na frondosidade sombria das árvores enormes que enchem os espaços onde outrora se situavam os tanques e os campos de “lawn-tennis”, que ecoam ainda as vozes sempre subtis dos nossos avós que fizeram do Cascais de então a maravilha que actualmente temos.

Cada um daqueles cantos e recantos está cheio de encanto. E a magia maior de um Cascais que nasceu de cara virada ao mar é ali que se sente!

Dizia o já referido Pedro Falcão (Dom Simão do Santíssimo Sacramento Pedro Cotta Falcão de Aranha e Menezes), expoente máximo da cascalidade vivida e sentida, que “a Parada, onde se juntava a nobreza, estava para Cascais como anel de brazão está para quem o traz no dedo”.

E o Museu do Mar, congregando na sua imagética a Alma e a Espírito de Cascais é, por tudo isso, o mais importante de todos os museus cascalenses. Que dure para sempre! A bem de Cascais!

O Leão Rampante do Sporting Clube de Portugal Nasceu em Cascais

por João Aníbal Henriques

Esta é a história do “Leão Rampante” que é o símbolo do Sporting Clube de Portugal e que, num passeio pela Parada de Cascais, o Visconde de Alvalade repescou da heráldica de Dom Fernando de Castello-Branco (Pombeiro) – Presidente da Câmara Municipal de Cascais e principal promotor do football no Sporting Clube da Parada. Ou seja, o nome, o símbolo e até a cor do Sporting actual nasceram desta história que quase ninguém conhece e que se passou em Cascais… Nessa conversa havida em Cascais, o Dom Fernando terá autorizado o Visconde de Alvalade a utilizar o seu leão como símbolo do novo clube mas pediu-lhe que, para o diferenciar do sporting Clube da Parada de Cascais, cuja cor era o azul, utilizasse o verde como cor oficial.

Vale a pena conhecer a fundo esta história que nos transporta à génese do actual Museu do Mar para perceber a real importância deste espaço para a definição do que é hoje o desporto em Portugal:


VEJA AQUI 


sexta-feira

O Segredo da Casa Real Inglesa em Cascais

por João Aníbal Henriques

Existem sempre ‘ses’ quando analisamos a História. Se tudo se tivesse passado de outra forma; se as decisões tivessem sido diferentes; se os acontecimentos se tivessem concretizado de outra maneira… tudo teria sido diferente.

Mas em Cascais, desde sempre palco privilegiado para a criação dos cenários que dão forma à História e ao Mundo, concentram-se grandes episódios que marcaram de forma decisiva os destinos da Europa e da própria humanidade.

Um dos mais desconhecidos, até pela susceptibilidade que lhe estava associada na época estranha em que aconteceu, aconteceu na Casa da família Espírito Santo, onde o cenário idílico em plena Enseada de Santa Marta enquadrou vários episódios rocambolescos que se tivessem ocorrido de outra forma teriam condicionado de sobremaneira a História do Mundo.



Durante a II Guerra Mundial, contrastando de forma aparente com a neutralidade assumida pelo Estado Português, Cascais e os Estoris foram palco de grandes movimentações nas áreas da espionagem e da contra-espionagem que alteraram de forma radical o rumo da guerra e, por consequência, o Mundo em que actualmente vivemos.

Em 1939, logo no início da guerra, chega ao Estoril o chefe SS Walter Schellenberg a quem a Gestapo havia incumbido com a muito difícil missão de dirigir os serviços secretos alemães no estrangeiro. No Estoril, para evitar percalços de maior com a presença do antigo Rei Inglês Eduardo VIII, que esteve alojado com a sua mulher na casa do banqueiro Ricardo Espírito Santo (que o MI16 registou como sendo agente alemão) junto à Boca do Inferno, em Cascais, o plano era de raptar os Duques de Windsor e de os remeter para um outro país onde a presença dos serviços ingleses fosse menos relevante e no qual as forças germanófilas pudessem ter um controle efectivo sobre as suas actividades, na perspectiva de uma eventual invasão alemã ao Reino Unido e a colocação no trono do antigo monarca cuja simpatia pela causa nazi era pública e reconhecida.



Para cumprir esta missão que os serviços secretos alemãoes designaram como “Operação Willi”, Schellenberg recebeu ordens directas e precisas do próprio Joachim von Ribbentrop, Ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, para acompanhar o monarca deposto num dia de caçada em território português e para garantir que durante a actividade os Duques seriam raptados pelos espiões alemães e levados em segredo para outro lugar.

No entanto, devido ao conhecimento que havia acumulado nas muitas missões de espionagem perpectradas no Estoril, Walter Schellenberg opta por alterar os planos, permitindo que Eduardo VIII e Wallis Simpson tivessem partido sob orientação de Winston Churchill para as Bahamas alterando assim em definitivo o papel desempenhado pelos ingleses no decurso da guerra e determinando muito provavelmente o desfecho da mesma a favor dos aliados.

O palco onde tudo isto se passou, montado sobre cenários inesperados, contraditórios e tantas vezes inebriantes, foi o triângulo estorilense que compreendia o Hotel Miramar, o Hotel Palácio e o Casino Estoril, provavelmente o único lugar no Mundo onde em pleno fulgor da guerra seria possível manter-se tão profícua e apaixonante actividade por parte de ambos os partidos envolvidos na guerra.



Se tudo tivesse acontecido de outra maneira, Eduardo VIII teria regressado ao trono britânico sob a tutela do III Reich e, muito provavelmente, o desfecho da II Guerra Mundial teria sido muito diferente.

O segredo que este recanto encantado teima em guardar, é assim motivo maior para percebermos a importância que Cascais teve e tem na definição dos rumos que o Mundo vai tomando. Ali, onde as velhas lendas locais se cruzam com os factos mais inusitados da História de Portugal, se definiu o rumo que determinou a existência do Mundo em que hoje vivemos.

Veja AQUI este segredo de Cascais:

segunda-feira

O Caminho do Silêncio na Ermida de São Saturnino da Peninha


por João Aníbal Henriques

Na busca incessante dos trilhos mais significantes de Alcabideche, urge desvendar aquela que é uma das mais impactantes lendas da freguesia. Saída directamente da encruzilhada que junto à Biscaia liga o Caminho das Almas à encosta de São Saturnino, a Poente da Ermida de Nossa Senhora da Peninha, a lenda que corporiza este espaço traduz na sua essência a amplitude milenar das convicções e das crenças de sempre dos Cascalenses. 

A subida desta encosta, atravessando o caminho de pé posto que começa nas Almoínhas Velhas e se estende até ao que resta do velho palacete ali construído por António Carvalho Monteiro, o conhecido “Monteiro dos Milhões” que viveu na Quinta da Regaleira e que, do alto da sua iniciação, traduzia na matéria os valores espirituais mais relevantes da Portugalidade, faz-se por entre o exotismo de uma flora artificialmente disposta como se de um cenário se tratasse, propiciadora, por seu turno, de uma fauna pujante que não deixa indiferente quem tem a sorte de por ali poder passear. 




Reza a lenda que, algures durante o reinado de Dom João III, uma pastorinha muda e esfomeada nascida na localidade das Almoínhas Velhas (Malveira-da-Serra, Cascais), terá subido à Serra de Sintra com o seu rebanho onde encontrou Nossa Senhora. A figura com a qual falou, respondendo ao seu anseio de alimentos para si e para a sua família, disse-lhe para regressar a casa e abrir uma determinada arca onde encontraria o pão de que necessitava. Correndo de regresso para casa, a pastorinha recuperou a voz e indicou à sua mãe onde encontrar o tão almejado alimento. A velha imagem tosca de Nossa Senhora da Penha, colocada na arca, terá sido então exposta para veneração na velha Capela de São Saturnino, situada a poucos metros do local da aparição. Mas, teimosa, saia subrepticiamente do altar onde a colocavam e reaparecia no cimo dos rochedos situados atrás do templo. Tantas vezes se repetiu a travessura que se construiu em sua honra a capela actual no topo do monte da peninha. 

Não se sabendo exactamente quando tudo isto aconteceu, e havendo várias notícias da existência de edifícios que precederam aquele que actualmente ali se encontra, sabe-se, no entanto, que a Capela de Nossa Senhora da Peninha terá sido construída por um tal Pedro da Conceição, que tinha na altura somente 28 anos, e que se encontra sepultado junto ao monumento. Nas inscrições lapidares de Sintra, vem descrita a indicação que se encontra na sepultura do fundador, dizendo que ali jaz o Ermitão Pedro da Conceição, falecido em 18 de Setembro de 1726, e que pede a todos os que por ali passem um Padre Nosso e uma Avé Maria pela Alma dos seus benfeitores. Numa das paredes do templo, existe uma segunda lápide confirmando a identidade do construtor original e afirmando que a obra foi efectuada em 1690. Sendo muitos e rocambolescos os episódios pelos quais passou o singelo templo Sintriano, o certo é que foi alvo de muitas obras de construção e reconstrução que lhe conferiram o aspecto que hoje conhecemos. Sabe-se ainda que no final do Século XIX, em 1892, a Peninha é comprada pelo Conde da Almedina que em 1918 a revende a António Augusto Carvalho Monteiro. 




O empreendedor e filósofo espiritualista, como ficou conhecido o construtor da Quinta da Regaleira, situada junto à Vila de Sintra, era na altura um dos mais conhecidos e ricos empresários lisboetas, com investimentos variados na banca de então que, do alto da sua prosperidade, adquire uma visão ecléctica do Mundo e das suas gentes. Profundamente místico e grande conhecedor de tudo aquilo que dizia respeito ao destino de Portugal, Carvalho Monteiro pauta a sua vida por um conjunto de valores e de princípios que, apesar da distância que o separa do antigo Ermitão Pedro da Conceição, lhe são muito próximos e semelhantes. Adossado às penhas que sustentam a capela, o proprietário prepara a construção de um palácio onde pretendia passar temporadas em meditação e em recolhimento. 

Projectado por Júlio da Fonseca em 1920, o palácio fica por acabar mercê da morte de Carvalho Monteiro, tendo posteriormente sido adquirido pelo advogado José Rangel de Sampaio que concluiu as obras e legou o palácio em testamento à Universidade de Coimbra Em 1991, pela importância de 90.000 contos, o imóvel é adquirido pelo Estado Português, através dos Serviços de Parques e Conservação da Natureza, que efectuou algumas obras de restauro e conservação. 

A Poente da Capela de Nossa Senhora da Peninha, subsiste em forma de ruína avançada, o que resta da velhinha Ermida de São Saturnino, originária do Século XII, e cuja importância em termos patrimoniais contrasta de forma evidente com a incúria em que tem sido deixada. O conjunto patrimonial da Peninha, composto pela Capela, pelo palácio de Carvalho Monteiro e pela velha Ermida de São Saturnino, está inserido numa das mais impactantes paisagens da Região de Lisboa, abraçando em termos visuais desde a Ponte Sobre o Tejo, em Lisboa, até ao Cabo da Roca. A singeleza da lenda, apelando aos sentidos de pureza primordial e fazendo a apologia da pobreza extrema e abnegada, enquadra-se no conjunto ritualístico próprio da Serra de Sintra, numa lógica cruzada de paganismo cristianizado e de apelo constante ao Quinto Império Português. 




A devoção pela Senhora que concebe, a Senhora da Conceição que tão linearmente devolve à pastorinha das Almoínhas Velhas (ou Almas velhas), a sua voz e lhe mata a fome, é concretizada pelo Ermitão, ou seja, pelo que assume a pobreza como fio condutor da sua vida, Pedro da Conceição, em ligação permanente ao culto ritual antigo. Na Ermida Medieval, onde o culto é de São Saturnino, a linha orientadora é a mesma, apelando ao eterno retorno e ao culto obscurecido dos Mundos Internos, numa lógica que corre em linha com o útero materno, a Deusa-Mãe primordial, por aqui venerada desde tempos imemoriais. Enfim… Nossa Senhora da Conceição. Os trilhos da Conceição, muito comuns através de todo o território municipal de Cascais, ganham uma importância acrescida e redobrada na área actualmente incluída na Freguesia de Alcabideche. 

Os mananciais de água que descem da serra em direcção ao mar, franqueando de forma livre as vastas charnecas que envolvem aquele lugar, deixam atrás de si um rasto de fertilidade que promove a vida, a saúde e o bem-estar daqueles que deles usufruem. A dependência directa destes mananciais, aqui como em qualquer outra parte do Mundo, ajuda a definir a estreita ligação que consistentemente se estabelece entre o quotidiano de cada comunidade e o seu profundo saber. A sabedoria popular, tão importante para a generalidade das tarefas do dia-a-dia, assume-se em Alcabideche como sustentáculo essencial para a formação da identidade local. E espraia-se, desde sempre, através de campos diversos que influem directamente nas escolhas que todos os dias, nos seus momentos de trabalho e de lazer, que os habitantes vão fazendo na sua vida. 

terça-feira

Apresentado o Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques

Apresentação do Livro "Viva Estoril" da autoria de João Aníbal Henriques e com Prefácio de Miguel Pinto Luz. Esta é a história extraordinária de António Simões de Almeida, António Pinto Coelho de Aguiar, António Teixeira Murta, Fernando Fernandes e Maurício Morais Barra que dá forma àquilo que é hoje a região de turismo de Cascais. 



(Imagens da Câmara Municipal de Cascais)


Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques



Numa iniciativa conjunta da ALA – Academia de Letras e Artes e da Associação de Turismo de Cascais, foi apresentado publicamente o livro “Viva Estoril” da autoria de João Aníbal Henriques e com prefácio de Miguel Pinto Luz. Abordando a história recente do turismo na Costa do Estoril, o livro recupera a história de um grupo de hoteleiros que tomou em mãos a recuperação do sector durante os anos conturbados que se seguiram à revolução de 25 de Abril de 1974 e do PREC. António Simões de Almeida, António Pinto Coelho de Aguiar, Maurício Morais Barra, Fernando Fernandes e António Teixeira Murta, a que mais tarde se juntaram Pedro Garcia, Luís Athayde, António Soares e muitos outros, foram os protagonistas de uma história que mudou radicalmente os destinos da região do Estoril e de Cascais até à actualidade.










Fotografias da autoria do Departamento de Comunicação da Câmara Municipal de Cascais e de Josefina Gonçalves